Desde meus 4, 5 anos de idade, sou fissurado por futebol e suas histórias. Eu adorava passar horas ouvindo contos meu avô, meus tios e vizinhos sobre tantos gênios que não tive a chance de ver ao vivo. Topava numa boa tomar um guaraná no botequim, enquanto os coroas enchiam a cara e relembravam como um Bonsucesso x Madureira de 1973 foi emocionante.
Eu via os velhos encantados ao falarem de Pelé, Garrincha, Zico, Dinamite, Gérson, Sócrates, Tostão e sentia uma certa inveja. Pensava se um dia poderia dizer "eu vi", em vez de "ouvi falar", sobre alguém deste cacife.
Enquanto isso, um camisa 11 era capa do jornal toda segunda-feira, abusando da criatividade do coitado do editor, que toda semana tinha que pensar em uma manchete nova sobre um mesmo cidadão.
Sempre o homem da partida, o rei da área, o artilheiro do campeonato. Sempre atormentando zagueiros, amedrontando rivais, admirando quem ama futebol.
Sempre Romário.
Eu via um monstro brilhar na minha TV. Ao vivo. E não tinha noção disso.
Normal, para uma criança acostumada a ouvir lendas saudosas da boca de quem havia vivido o baile de debutante da Dercy.
E hoje, mesmo 20 anos de idade, entendo o lado deles. Por mais completo que seja qualquer centroavante que surgir, meu recém-saudosismo me impedirá de vê-lo em um patamar à frente do Baixinho.
Porque qualquer chance clara perdida me fará lembrar daquele cara que vestia a camisa do meu time quando descobri o que era futebol e, anos depois, me assustava vestindo a do rival.
- Esse gol aí, o Romário de Souza Faria.
Tá, ok. Desculpa. Não irá se repetir, prometo.
Existem centroavantes completos. Existem jogadores completos. Existe Romário.
O príncipe da côrte, o homem que não precisava treinar para chegar em campo e mostrar o que sabia.
O cara que, no Barcelona da disciplina e dos bons costumes, fez dois gols e pediu pra sair no primeiro tempo, para não perder o voo e nem o Carnaval carioca.
Reza a lenda. E se tratando de Romário, acreditar faz bem.
Tudo que ouvi falar dos maestros do Canal 100, meu neto ouvirá sobre um indivíduo de 1,67 que brincava com o significado da palavra Gigante.
Aquele que é respeitado mundialmente sem precisar ter feito 80% da carreira na Europa. Aquele que atravessou o Oceano para, praticamente sozinho, nos dar uma Copa.
Há 50 anos, Papai do Céu apontou para um menino.
E depois de 1002 motivos, não contestamos sua razão.
Esse é o cara.
@_LeoLealC