Não importa que o adversário não era nada assustador e que poderia haver até uma goleada. Na Libertadores, vencer é o que importa.
Não importa o esquema errado onde o principal organizador da equipe fica encostado na direita, enquanto um argentino bem sem-sangue fica no papel da criação. No segundo tempo, entra um menino que até janeiro era desacreditado e muda o jogo.
Não importa o lateral fora de forma vaiado em toda partida. Uma jogada inteligente na ponta e um cruzamento rasteiro simples garantem sua boa nota no jornal no dia seguinte.
Não importa o time perdido taticamente. Perto de 40 mil pessoas, ele consegue se achar.
Desde a dúvida nas arquibancadas, até a euforia quando no placar aparecia "Hernane 9" na escalação. Desde o alívio com o primeiro gol e a quebra do ferrolho, até a explosão quando ele balançou a rede. Ou, apenas, "brocou". Eles vibraram, mais do que o normal. Era o possível último gol do rapaz vestindo a camisa rubro-negra.
O jogo era importante, mas não vida-ou-morte. O dia era de batalha no campo, mas também da provável despedida de um indivíduo que ganhou o coração de milhões.
Um "perna-de-pau" com a canela mais precisa do mundo, um "pereba" que nasceu virado pra Lua, um xodó que virou ídolo.
Exagero chamá-lo de ídolo? Pergunta para aqueles 40 mil.
Pois lá dentro daquele Maraca, até quem é a favor de sua venda não resistiu a cantar "Fica, Hernane!".
Então, ele se emocionou. E dentro do campo, agradeceu-os, retribuindo como sempre fez.
Sem precisar de muito, pois nunca precisou. Nada mais que uma chance, um toque. Para ele, basta, é suficiente.
E enquanto preparava o "texto da despedida", me deparo com a notícia de que ele fica.
Assim, não foi seu último jogo. Foi apenas a certeza do reconhecimento, e de que uma nação o ama.
Éverton foi o melhor em campo, Gabriel entrou para mudar o jogo.
Mas a noite de quarta-feira foi dele.
Com um toque, um gol e 40 mil gritando seu nome.
E para felicidade geral da Nação, que tanto clamou "Fica, Hernane!", diga ao povo que ele ficou.
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