16 outubro 2014

Judas e o milagreiro


João foi ao Mineirão pela primeira vez, acreditando no seu Galo, na certeza de que o confronto ainda estava em aberto.

Ele sempre jurou ser atleticano até o pé, daqueles que não aceitam nada de cor azul em sua casa. Nasceu e morava em Ituiutaba, bem longe de BH, e só havia visto o Atlético de perto quando há muito tempo a equipe foi enfrentar o time de sua cidade natal, no Campeonato Mineiro.

Há dois meses, João se mudou para a capital e agora pretende acompanhar seu time no estádio sempre que puder.

Isso, se o peso que hoje caiu sobre sua consciência deixar.

Era o primeiro jogo decisivo de sua vida. O cara entrou no Mineirão abarrotado de gente e se encantou. Mas, supersticioso como sempre foi, já lamentou na entrada do time:

"Droga. Essa camisa branca só dá azar. Logo hoje, Galo?".

Bola rolando, bico pro alto... gol do Corinthians.

Mais dez minutos, um gol perdido de cara e João, como um traidor, se levanta e vai em direção à saída. Um torcedor, que nem lhe conhecia, percebe e o para pra perguntar:

- Vem cá, você já vai embora?

- Sim, vou ficar aqui fazendo o que? Já era!

- COMO É QUE É? Você se esqueceu do que significa essa camisa que está vestindo? Não lembra o que vivemos ano passado?

- Cara, precisamos de 4 gols. Tardelli cansado, André em campo...

- Ele não está nem jogando! Que jogo você está vendo?

- Ah, que se dane! Hoje não dá mais pra ter milagre!

- Não dá é o car#$*&#! Fica nessa p&@$! Aqui é Galo!

- Eu não! Vou pra casa dormir!

Assim ele foi, sem nem se importar com o dinheiro que havia desperdiçado.

Chegando em casa, ele liga a TV por curiosidade e se depara com o 2 x 1.

- Uai, será?

- Mas peraí... Por que eu não estou lá com eles?

Nesse momento, ele já não sabia se estava torcendo contra ou a favor, se era melhor seu time se classificar ou livrar-se da consciência pesada.

3... 4! Por força de hábito, João vibra, tira a camisa, bate na parede e comemora como um louco o gol antes impossível. Até que ele se toca e cai de joelhos chorando.

Mas não de alegria, como em 2013, quando assistia a aquilo tudo de sua casa, bem longe dali.

Dessa vez eram lágrimas tristes, mesmo que Galo desse motivos para um sentimento totalmente diferente.

Caía a ficha de João, que havia estragado o dia em que o Clube Atlético Mineiro transformaria em um dos melhores da sua vida.

Assim como fez com milhares de fieis seguidores que não o abandonaram.

Todos aqueles ganharam mais uma história pra contar.

João, não.

Neste dia histórico que o rapaz desperdiçou, ele só tem a lamentar e se desculpar com o Galo e a Massa.

Se depois de hoje João iniciará o processo de aprendizado sobre o que é ser atleticano, ainda não há como saber.

Mas quanto a ele, a Massa já tem uma certeza:

"Você não nos representa".

@_LeoLealC

2 comentários:

  1. Parabéns pelo texto!!! Só o verdadeiro atleticano sabe o que e torcer e acreditar ate o ultimo segundo!!!

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  2. E agora hem Léo? Agora somos nós: Galo x Fla na semi da Copa do Brasil!

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