16 setembro 2014

Flamengo, Fernando e o cigarro


Como de praxe, Fernando foi ao Maracanã ver seu Flamengo. Ele é daqueles rubro-negros fanáticos, que comemora Natal também no dia 3 de março, tem o Maraca como sua igreja e garante ter ossos pretos que combinam com o vermelho de seu sangue.

Neste domingo, ele encontrou seus amigos e foi pra trás do gol, no meio da galera, na arquibancada, para ver o jogo em pé, bem como gosta.

Por ser um frequentador assíduo de estádios, está acostumado a sentir cheiro de cigarro, maconha e qualquer coisa proibida que é consumida mesmo na frente dos guardas. Mas desta vez, um cidadão lhe incomodou bastante.

Olha, se não for por causa do nervosismo na hora do jogo, é de se temer que o pulmão do sujeito fumante já esteja parecendo uma cartolina preta. Eram impressionantes 3 cigarros a cada 10 minutos. Um absurdo! Não é possível que o vício do rapaz seja tão incontrolável.

O jogo começa, percorre os minutos e a fumaça não para de voar em direção a Fernando. Já havia se tornado uma situação constrangedora. E mesmo com ele balançando as mãos para afastar a fumaça e mostrar ao indivíduo que não estava gostando nem um pouco daquilo, o homem continuava a fumar.

O senhor atrás, preocupado com o problema respiratório da filha, pediu educadamente para que o cidadão parasse. Em vão. Então Fernando não aguentou:

- Joga isso fora, cara! O jogo tem 30 minutos e desde o início você está com esse cigarro na mão.

- Desculpa, senhor. É que eu estou nervoso. É o calor do jogo.

- Nervoso fica meu nariz cheirando essa desgraça! Segura a onda aí, brother. Essa droga só serve pra fazer mal a você e a todos.

O cara então sossegou por um tempo. Parecia ter se tocado de que ninguém ali estava satisfeito com seu vício compulsivo. 

Mas para o azar de Fernando, os cigarros tinham apenas acabado. No intervalo, o infeliz pegou o maço de seu amigo, abriu e prosseguiu sua destruição pulmonar. 

A irritação estava quase no limite, até que um cruzamento na área corintiana tornou a nicotina saudável.

O domínio, o chute, a rede balançando, a corrida do bandeirinha para o meio. Gol.

No estádio não há tira-teima. Então não precisa ter peso na consciência pra comemorar.

A explosão da galera, o abraço e até a risada quando a ponta do cigarro do sujeito esbarra no braço de Fernando. Cria-se um laço afetivo inexplicável com qualquer um que comemore o mesmo gol com você.

36 mil desconhecidos entre si viram irmãos, filhos de uma mesma camisa. Inclusive Fernando e o fumante.

A alegria fez o homem esquecer um pouco o tabaco. Mas seu agora amigo não.

Pênalti para o Flamengo.

- Cadê o cigarro? Cadê?

- Tá aqui no bolso. Por quê?

- Acende, acende!

- Mas não era você que não estava gostando?

- Não interessa, o que importa é o Mengão. Acende pra sair o gol. Tava dando sorte!

Eduardo na bola... Cássio defende.

- Também, ninguém mandou acender esse troço. Olha lá, zicou!

- Ué?

- Apaga essa porcaria, cara. A fumaça deve ter atrapalhado até o Eduardo!

Todos deixam de se preocupar com o fumante e começam a rir de Fernando. A situação já havia ficado engraçada.

Até que o juiz apita o fim de jogo, Fernando, seus amigos e o cara do cigarro se abraçam, pulam e cantam felizes com a vitória. 

Eles descem juntos, rindo e comemorando o resultado do jogo. Na hora de se despedir, o mais novo amigo de Fernando, que nem sabe seu nome, se desculpa:

- Foi mal, brother. Na hora do jogo eu fico muito tenso. Desculpa aí se incomodei.

- Ih, relaxa, parceiro. Nem percebi a fumaça direito. Tá perdoado, irmão. Saudações Rubro-Negras!

Não fume. Cigarro faz muito mal à saúde e prejudica a respiração de quem estiver próximo. 

Mas se fumar, torça para o mesmo time que o sujeito ao seu lado.

E caso seja ao lado de Fernando, vibre um gol do Flamengo. 

É capaz dele até te dar um isqueiro.

@_LeoLealC

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