24 novembro 2015
Exorcismo
De São Cristóvão a Joinville, do goleiro ao 9, do jornal ao programa esportivo, da classificação aos resultados, qualquer pedaço de espaço ou imaginação assombra o Vasco em 2015.
Fantasmas a qualquer lado, medo, tensão, angústia... O que mais poderia causar calafrios aos cruzmaltinos?
Cair no mesmo estádio de 2013.
Uma derrota e pronto, já era. Rebaixado em Joinville, de novo. Assim, o vascaíno que parecia já conformado no fim do primeiro turno mas viu uma luz na reta final, se roía de terror.
Sim. Jogos do Vasco, neste fim de campeonato, se tornaram filmes de terror. Não pelo nível técnico, que agora é bastante aceitável se comparado há 3 meses atrás, mas pelo o que se carrega, na camisa, na consciência e na positiva esperança em cada 90 minutos passados.
Mas o Gigante da Colina, ao mesmo tempo, tirou o ano para acabar com assombrações de outrora.
O Carioca que não vencia há 12 anos, o rival que não vencia desde 2012 e, quando o "Escolhi acreditar" se tornava apenas uma prova de amor em vez de uma crença, surge a chance de expulsar o terceiro rebaixamento.
E na Arena Joinville, terreno de ar impuro ao Cruzmaltino, mais um fantasma foi exorcizado. No sufoco, no teste pra cardíaco, no aparelho que ainda funciona para auxiliar a respiração. Mas este, ainda este, também este, foi embora.
Para que a fé ainda tenha sentido, embora a situação ainda esteja bastante dramática. Para não se entregar e, no mínimo, morrer lutando.
Domingo, uma boa lembrança dentro de pesadelos. O Santos. Contra ele, o Vasco saiu do Z4 nas retas finais de 2008 e 2013, anos em que foi rebaixado. O mesmo Santos, que ano passado rebaixou Botafogo e Vitória num só campeonato.
No terror, surge um anjo. Falso, mas de considerável respeito pela lembrança.
A morte ronda, mais uma vez.
Mas além de ainda haver vida, também há a chance real de permanecer vivo.
Gigantes ressuscitam quando falecem. Mas dessa vez, embora em coma, o coração ainda bate.
E o pulso ainda pulsa.
Há cura.
@_LeoLealC
Foto: Carlos Jr.
02 outubro 2015
O soldado pelo exército
A saga Rambo criou um ícone militar americano. Ela conta a história de um sujeito que, em resumo, vence o exército rival sozinho. O soldado que aguenta a dor, sobrevive após a tortura e passa sua vida lutando pela sua pátria.
John Rambo é o cara que nasceu para a guerra. E nela, sabe o que faz.
Ele luta, atira, se arrisca. Quando não dá certo, volta pra casa, mas pensando no que fazer para recuperar sua honra e garantir a de seu país quando retornar ao campo de batalha. Sua luta pela sobrevivência se confunde com a busca pela supremacia de sua bandeira.
Rambo, quando líder, chama a responsabilidade. Quando sozinho, se garante.
Rambo é um homem que não foi feito para levar uma vida normal, mas sim para o perrengue. Aliás, para se livrar dele e garantir a glória.
Um exército, sem ele, não leva vantagem sobre qualquer um. Com ele, é temido.
Ele é torturado, abandonado, às vezes desacreditado. Mas ressurge, se vira sabe-se lá como, garante sua vida e vence uma guerra.
É previsível, entende-se como clichê, mas ele se supera, carrega consigo a vitória, blablablabla e no fim, é o grande herói.
O cinema cria personagens, a guerra cria heróis. O futebol, ídolos.
John Rambo é a personificação da glória de uma pátria.
Acontece que, desde 2009, Sylvester Stallone carrega uma bandeira tricolor.
E seu novo personagem chama-se Frederico Chaves Guedes.
@_LeoLealC
30 setembro 2015
Porque sim
Existem coisas no futebol que não se explicam. Elas fazem com que você, mesmo não se apegando a qualquer religião, busque justificativas em crenças ou qualquer lógica que fuja do plano material.
Seja sincero, vascaíno: quando viu seu time estacionado nos 13 pontos durante tanto tempo, sem sequer fazer gols, sofrendo uma goleada a cada três rodadas, você acreditava?
Tá, eu sei que você postou #EuEscolhiAcreditar no Facebook, disse que "enquanto houver 1% de chance, terá 99% de fé", vestiu a camisa, viu todos os jogos, até foi ao Maracanã, etc. Mas estou falando de confiar, esperar algo em troca de toda esta fé. O amor pelo Vasco vos fez torcer por um milagre, o que é diferente de vislumbrar uma possibilidade real de que ele aconteça.
Você sentia dor nas pupilas ao ver a tabela e ia se conformando angustiantemente.
"Não dá mais. Só Deus tira o Vasco desta lama".
Porque o Vasco não precisava só de uma rodada. Nem duas, nem três. A recuperação deveria ser homeopática, o que exigiria regularidade de um time que só era competitivo - e competente - em clássicos.
Até que, de repente, ele consegue 13 pontos em 15 disputados. Os mesmos 13 antes conquistados nos primeiros 69 em disputa. Agora, são cinco pontos pra sair, tendo dois confrontos diretos em sequência.
Não, argumentação com base única e exclusivamente tática não irá me convencer. Jorginho não é um gênio e, com o mesmo time, tomou 6 do Inter, 3 do Goiás e perdeu pro Figueirense em casa. Nenê, principal contratação, estava presente nas três partidas.
Acontece que o pé adversário, que cortava um chute do tal ataque inoperante, resolve desviar a trajetória e enganar o arqueiro. O chute mal feito agora tem rebote, sozinho, na pequena área. Aquele zagueiro encostado resolve subir e fazer o gol da vitória.
A bola, que antes pairava a trave, decide entrar mesmo quando bate na mão do goleiro.
O ditado diz que a sorte acompanha os competentes. Mas, às vezes, ela cisma com alguém para brindar e inverte tal lógica. Neste caso, até para se desculpar.
Antes no inferno, o Vasco agora vê tudo estranhamente dar certo para o seu lado. E o santo desconfia.
"Por que tanta esmola?"
Porque sim, ué.
Não desconfie. Acredite. Agora, há motivos.
Por que o time de Romário, Viola, Edmundo, Juninhos, Pedrinho e Felipe tinha tantas dificuldades com o arquirrival, mas o de Andrezinho, Rodrigo e Rafael Silva transformou 2015 numa freguesia rubro-negra?
Por que um ano tão doloroso pode, do nada, se transformar numa virada histórica com um milagre homeopático e gostinho de chamar o rival de freguês?
Porque Deus quis. Ponto.
Considerando que não haviam mais ateus ao olhar aquela assombrosa classificação há 30 dias, é a interpretação mais aceitável e justa.
Ah, perguntaram a Ele quem merece ficar na Série A.
E não precisa saber o porquê para perceber que a resposta está clareando.
@_LeoLealC
17 setembro 2015
Está 3 a 1
Aquela partida contra o Galo era apenas mais um passo descalço daquele pé ensanguentado entre os cacos de vidro. O Vasco já estava rebaixado.
Pois é. Mas quando o Tuta fez o terceiro gol em 2000, também não haviam dúvidas de que o Palmeiras levaria aquela Mercosul.
O gol de Tuta, em 2015, foi dividido e distribuído na bicicleta de Zé Love, no gol do Figueira no último lance, no 6 a 0 pro Inter e também na derrota pro Galo.
Agora imagine você que os jogos contra Ponte, Atlético-PR e Cruzeiro, que inicialmente torturariam o Vasco com mais do mesmo, deram sete pontos ao Cruzmaltino e diminuíram o grau da missão de impossível para improvável.
É pouco? Pouquíssimo. Mas é o suficiente para você ter fé.
Acredite, vascaíno. É o máximo que você pode fazer agora. Porque não vai ser em 3 rodadas que seu time vai tirar a diferença.
E você tem 12 partidas pra isso, assim como tinha só 45 minutos naquela noite no Parque Antártica.
Romário bateu o pênalti e guardou. O Vasco da Gama acaba de diminuir para 3 a 1 a final da Mercosul que vive neste Brasileirão.
A virada, desta vez, não valeria uma taça, nem um fim de uma geração histórica com chave de ouro. Não seria uma conquista, mas uma prova. Do sentido do termo Gigante, da alcunha de time da virada, do fim da piada com o respeito. Uma amostra grátis do verdadeiro tamanho desta camisa.
Portanto sonhe, vascaíno, Se havia a certeza de um óbito, concluiu-se que trata-se "apenas" de um coma. E se a única coisa que se pode fazer inconsciente é sonhar, não crie um pesadelo com uma tragédia de véspera.
Ainda não, pois ao contrário do que dizia o relatório inicial, o quadro é reversível.
Contra o Sport, domingo, o Vasco tem um dos raros jogos no campeonato em que entra como favorito. Depois, um clássico cujo histórico recente é animador.
É pênalti, de novo. E Romário já se encaminha para a bola.
Por que não?
@_LeoLealC
11 setembro 2015
Não foi a camisa
Não é novidade ver um Flamengo desacreditado decolar e transformar sua briga por rebaixamento numa caminhada à Libertadores e um sonho - ainda sonho, porém não mais um total delírio - com título.
Ao depararmos com este Fla, que transformou suas possíveis férias após a dolorosa eliminação da Copa do Brasil numa arrancada que o coloca entre os quatro primeiros, quais os elementos que vêm à mente?
Imediatamente, você fala na camisa pesada, lembra da mística com o Maracanã, pensa na torcida carregando o time nas costas, "Deixou chegar" e qualquer outro fator oxigenar que o Flamengo nos acostumou a aceitar.
Dessa vez, não.
A camisa mantém seu peso, a mágica com o Maraca permanece, a torcida vai em excelente número, sim. Ponto. Mas o novo integrante do G4 tem uma forma mais objetiva para justificar a atual colocação.
O Flamengo joga bola.
Das cinco vitórias seguidas, a equipe amassou o adversário em quatro delas. Não seria exagero se goleasse São Paulo e Flu, por exemplo. É um time que agora sabe o que fazer com a bola, chega em bloco no ataque, cria chances e pensa o jogo, sem esperar que alguém tenha que se virar no mano a mano.
E consegue isto sem Guerrero.
Nesta quinta, no único jogo onde a equipe passou longe de convencer - compreensível, tendo em vista os quatro desfalques -, o Rubro-Negro se aproveitou descaradamente da boa fase para achar dois golaços e transformar a atuação em uma exibição de gala.
A vitória contra o Cruzeiro é uma exceção à regra que o Fla vai ditando.
Em cinco jogos, se tornou um time bem treinado, com uma defesa segura e um ataque que não depende mais de um jogador. O elenco, antes carente, agora tem reservas aceitos e cria uma dúvida para quando todos estiverem disponíveis.
O único ponto sobrenatural nesta consistente sequência rubro-negra é o chute dejânico que Luiz Antônio acerta. O resto, o VT das partidas explica.
O Fla se habituou a ser entendido apenas por quem o sente. Só que neste caso, há como decifrá-lo apenas o assistindo.
Não deixaram o Flamengo chegar. Mas ele apareceu por conta própria.
E mesmo como penetra, já tem uma gostosa piscando o olho.
@_LeoLealC
17 agosto 2015
Criminal Case - Ep.: Twitter
Após cinco minutos no Twitter, pude concluir que o Timão é o verdadeiro culpado pela alta do dólar, que subiu propositalmente após os rumores de que Luciano receberia proposta de um clube da MLS.
Entendi também que o Corinthians é o culpado pelo desemprego no país. Percebi que nossa economia está em colapso pelo simples fato do clube não ter aceitado vender o zagueiro Gil para movimentá-la.
Captei o ideal do nazismo, que se resume em perseguir negros, judeus e proteger a Gaviões da Fiel. Descobri que Osama Bin Laden foi frustrado no 11 de setembro, pois sua verdadeira intenção era atingir o Morumbi com a aeronave.
Os esforçados e competentes detetives virtuais me convenceram de que o assassino de John Lennon é corintiano, e que ele praticou a execução após ouvir dizer que o Beattle admirava Pelé.
Pude notar também que, a cada 30 dias, dirigentes do clube se disfarçam de embaixadores, visitam a África e furtam toda a comida possível, o que culmina no problema da fome no continente.
Além disso, está bem claro que a seca no sertão nordestino se iniciou quando o Corinthians instalou as primeiras banheiras de hidromassagem em seu CT.
No Facebook, há provas concretas de que Andrés Sanchez preferiu se desligar da CBF para fundar o Estado Islâmico e assim ameaçar a Confederação no intuito de seu clube ser favorecido.
Notei o principal culpado pelo 7 a 1. O Corinthians, que foi base da Seleção, que claramente deu preferência a atletas que atuam em nosso território.
Descobri que fui enganado nesses anos todos e que tudo no futebol é comprado. Pelo Corinthians.
Pois não há mérito algum na liderança para esta equipe tão irregular, sem padrão tático, que vence jogos na sorte. Não importa que a diferença é de quatro pontos, porque os três conquistados graças à arbitragem errada são os verdadeiros responsáveis. Sem os erros contra São Paulo e Avaí, este fraco time estaria no máximo tendo um sonho distante com G4.
Os torcedores do tablet me mostraram que a culpa das maracutaias na câmara de deputados é do Timão.
Entendi que os problemas no Brasil são justificados quando Corinthians está em campo. E que se eu disser que o impedimento mal-marcado por milímetros aconteceu porque o bandeirinha é humano e não tem acesso ao replay instantâneo, não passo de um alienado pela Globo, que obviamente é corintiana.
Aprendi que o lema do país é não estipular o Corinthians, e sim deixar o Corinthians em aberto, para quando atingirmos o Corinthians, dobrarmos o Corinthians.
Morte ao Corinthians! Principalmente aos que ainda têm a cara de pau de acreditar que erros humanos em lances duvidosos não são propositais!
E que nossos prodígios detetives venham um dia a tomar conta do país.
Se não for pedir muito, do futebol também.
@_LeoLealC
15 agosto 2015
Ele quer mais
E logo após a melhor atuação do Grêmio no século, surge o Galo, imbatível no Mineirão lotado, dependendo só de si para manter a liderança. Quatro dias após um dos maiores títulos da história do verdadeiro troféu à parte que é o Grenal, o Imortal tem pela frente o maior teste para saber o que realmente vai buscar neste Brasileirão.
Duas opções, então, são oferecidas: se dar por satisfeito com o passeio de domingo e a luta pelo G4, se comportando passivamente perante o objetivo do adversário, ou mostrar de vez para Atlético e Corinthians que há mais alguém nessa briga.
Boa parte dos grandes jogos deste Brasileirão, até agora, envolveram o Galo, o que explica o fato dele estar desde o início lá em cima. Mas naquela noite de quinta, a entrega a domicílio de mais um espetáculo chegou acompanhada de uma carta, contendo o seguinte aviso:
"Olha o Grêmio..."
O Atlético se tornou assustador jogando em Minas. Portanto, consequentemente, foi espantoso ver a postura do Tricolor. Frio, equilibrado, nunca esquecendo do ataque. Esperando o Galo, mas sem titubear a propor o jogo.
Perfeito.
O anfitrião que se acostumou a botar medo em casa viu um visitante abusado, que já chegou abrindo a geladeira e botando o pé no sofá. Sua mulher, sempre fiel, entendeu que nem todo mundo tem noção do perigo e o perdoou ao fim da noite pela liberdade dada ao estranho.
Os dois dormiram juntos. Ela de chico, mas eles ainda abraçados.
A maior prova de ambição neste campeonato é bater de frente com o Atlético no Mineirão e não se encolher.
O Grêmio viveu a melhor semana de sua década. E na metade do Brasileirão, acaba de dizer exatamente aonde quer chegar.
Há mais um na briga. E a distância pro líder é de 4 pontos.
Domingo, o Corinthians enfrenta o Avaí. O Galo, a Chapecoense. Os dois jogos em Santa Catarina, onde os dois catarinenses são bem enjoados.
O Tricolor tem o Joinville. Em casa.
"Olha o Grêmio..."
@_LeoLealC
Foto: Pedro Vilela/Getty Images
Foto: Pedro Vilela/Getty Images
11 agosto 2015
Feliz ano novo
Um Grenal divide águas, momentos, fases. Divide pais, filhos, o céu, o sangue, até o Papai Noel. Não há céu azul de um lado, nem sangue vermelho do outro.
Um Grenal afunda, coroa, esclarece. Não há qualquer inferno que uma derrota no duelo não torne ainda mais tenebroso, nem um momento que seja tão mágico a ponto de permanecer intacto e frio diante de um triunfo.
Vencer um Grenal auxilia a respiração, imuniza o corpo humano a doenças, clareia os dentes, estica o sorriso, diminui as rugas. Faz bem à saúde.
É a missão cumprida, a justificativa do salário, o recesso das exigências. É materializar e embrulhar o invisível para transformá-lo no mais belo presente.
É o necessário.
Um 5 a 0 num Grenal é o Natal antecipado e estendido. Independente do que valha, cria-se uma história, surgem heróis e a cor do Papai Noel é definida.
Não se pensa no que pode vir a acontecer até o fim do ano. Apenas se dá certeza de que ele valeu a pena. E o 2015 gremista, a partir de 9 de agosto, não tem mais defeito. A imagem de uma temporada se congela em 90 minutos que se eternizam e os três pontos se tornam um mero detalhe.
Nada mais importa, qualquer outro resultado futuro perde o sentido. O Grêmio fez 5 no Inter e se tornou o maior vitorioso do futebol brasileiro em 2015. Ponto.
Vá negar isto a um gremista. Boa sorte!
O Tricolor Gáucho não precisa de mais nada em 2015. Nada!
No máximo, uma vitória no Beira-Rio no returno.
Afinal, o que mais você pede quando num mesmo ano consegue comprar um carro novo, ser promovido na empresa e ainda pegar a chefe gostosa?
Isto é fazer 5 a 0 num Grenal.
Em qualquer outro lugar do Brasil, a legenda "Campeonato a parte" é clichê. Em POA, trata-se de um lema.
Porque Inter e Grêmio estão no mundo para ser gigantes, conquistar títulos e vencer o Grenal. Não necessariamente nesta ordem.
Em 90 minutos, o Imortal explicou.
E deu total sentido à sua existência.
@_LeoLealC
06 agosto 2015
Monumental
Libertadores não admite blazer, lugar marcado, cadeira acolchoada, pipoca, nem plateia. Ela não esbanja fortuna, nem é preparada por um grupo de mordomos com luvas que a servem ao molho inglês. Ela ri da cara de quem vai a Wembley cheirando a fragrância francesa assistir sentado à final da Champions League dizendo estar diante do verdadeiro futebol.
Libertadores não é cinema, e sim um rico cenário a inspirar graciosos roteiros. Ela não admite fãs adoradores de espetáculo, pois é engenhosamente arranjada para apaixonados. que saem de casa na busca de influenciar o que vem a acontecer no relvado,
Libertadores odeia flashes e troca qualquer câmera por um sinalizador.
Festa? Às vezes. Ela admira mesmo uma senhora guerra.
Ela não exibe organização. Ela oferece lágrimas, concedendo uma extensa variação de sabores.
Trata-se de poesia em guerrilha, de caprichos em pinturas borradas, assimétricas. É onde o homem escava a alma até resgatar instintos primitivos. É o simbolismo de uma afeição.
Falo da alma, do coração picotado e distribuído nas glândulas sudoríparas, do pulmão por onde o futebol ainda respira. É a maior explicação sobre o vínculo do ser humano com a bola.
Libertadores é a competição mais humana da Terra.
O River foi dono de uma campanha pífia na fase de grupos e se classificou tendo pouco mais de um terço dos pontos disputados. Uma das classificações mais cafajestes da década, que passou pela inocência do Tigres, que poderia entregar na última rodada e deu uma de bom menino.
Mas ela separa. E enquanto o mexicano é o menino prodígio, o argentino é o cara cascudo.
O Tigres, com um timaço, chegou à final e se deu por satisfeito. Para eles, basta. O River, que caiu de paraquedas no mata-mata, criou seu favoritismo por saber usar a camisa e entender perfeitamente o que estava em jogo.
Os mexicanos empataram em casa na ida e a torcida saiu do estádio fazendo festa, saldada. O que vier, para eles, é lucro.
Enquanto um já havia chegado no objetivo, o outro transformou em obrigação assim que avistou a possibilidade.
O Tigres ia perdendo gols e achando normal, vivendo com naturalidade e passividade a chance de conquistar algo que ele mesmo se recusava a acreditar. Aceitando de véspera um revés para o adversário inferior tecnicamente que se fez favorito na marra.
Ele vivia uma festa e bailava. O River, uma guerra. E lutava.
Libertadores não pede time bom. Pede time grande. E enquanto os dois alcançavam o que queriam, o mais exigente era premiado com a oportunidade de transformar um vexame numa conquista convincente.
E quem vai poder dizer que mereceu mais?
Foram apenas 5 vitórias - uma por W.O. - em 16 partidas. E daí?
A vida é para ser justa. O futebol, para ter emoção, brilho e história pra contar.
A justiça, nele, não está no que se faz por onde, e sim em quando é feito.
A vida, justa, deu ao bom menino a festa antecipada e a satisfação da bela campanha.
O futebol, brilhante, deu ao mais humano time do torneio a taça que tem vida própria.
Quando o bom menino decidiu permitir que o cara cascudo se classificasse, a Libertadores decidiu vestir uma mesma camisa desde as oitavas.
E quando ela quer, surge final feliz.
Mesmo após a morte do protagonista.
@_LeoLealC
Libertadores é a competição mais humana da Terra.
O River foi dono de uma campanha pífia na fase de grupos e se classificou tendo pouco mais de um terço dos pontos disputados. Uma das classificações mais cafajestes da década, que passou pela inocência do Tigres, que poderia entregar na última rodada e deu uma de bom menino.
Mas ela separa. E enquanto o mexicano é o menino prodígio, o argentino é o cara cascudo.
O Tigres, com um timaço, chegou à final e se deu por satisfeito. Para eles, basta. O River, que caiu de paraquedas no mata-mata, criou seu favoritismo por saber usar a camisa e entender perfeitamente o que estava em jogo.
Os mexicanos empataram em casa na ida e a torcida saiu do estádio fazendo festa, saldada. O que vier, para eles, é lucro.
Enquanto um já havia chegado no objetivo, o outro transformou em obrigação assim que avistou a possibilidade.
O Tigres ia perdendo gols e achando normal, vivendo com naturalidade e passividade a chance de conquistar algo que ele mesmo se recusava a acreditar. Aceitando de véspera um revés para o adversário inferior tecnicamente que se fez favorito na marra.
Ele vivia uma festa e bailava. O River, uma guerra. E lutava.
Libertadores não pede time bom. Pede time grande. E enquanto os dois alcançavam o que queriam, o mais exigente era premiado com a oportunidade de transformar um vexame numa conquista convincente.
E quem vai poder dizer que mereceu mais?
Foram apenas 5 vitórias - uma por W.O. - em 16 partidas. E daí?
A vida é para ser justa. O futebol, para ter emoção, brilho e história pra contar.
A justiça, nele, não está no que se faz por onde, e sim em quando é feito.
A vida, justa, deu ao bom menino a festa antecipada e a satisfação da bela campanha.
O futebol, brilhante, deu ao mais humano time do torneio a taça que tem vida própria.
Quando o bom menino decidiu permitir que o cara cascudo se classificasse, a Libertadores decidiu vestir uma mesma camisa desde as oitavas.
E quando ela quer, surge final feliz.
Mesmo após a morte do protagonista.
@_LeoLealC
31 julho 2015
A noite perfeita
A bola na rede muda, de uma hora pra outra, a análise da postura de um time em campo. É a matemática simples e às vezes injusta que diz que, se a bola não entrar, nada está certo.
O São Paulo fez um primeiro tempo brilhante no Mineirão e amassou o Atlético no início. Mas, ela não entrou. O Galo, brilhante na eficiência, teve 3 chances e matou o jogo nos primeiros 45 minutos.
O Tricolor teve duas ocasiões claríssimas de gol em menos de um minuto. Não aproveitou e viu, 2 minutos depois, o adversário começar a construir a vitória. E quando o "Se" de um transforma-se num "Foi" para o outro, não há injustiça.
A noite perfeita tem o Mineirão lotado, o melhor jogo do campeonato, a ameaça de uma reação quando a partida parecia liquidada e uma gostosa inversão de papéis.
O São Paulo apático de outras pelejas foi o que agrediu e, por centímetros, não teve uma atuação perfeita. O Galo que antes atacava, atacava e tinha dificuldades em abrir o placar em casa resolveu ser eficiente, suportar a pressão inicial e decidir o jogo nas 3 ocasiões que lhe apareceram.
O time do mata-mata, dos jogos decisivos e das viradas resolveu ser regular e vai construindo uma campanha perfeita para um título incontestável que deve chegar.
A noite perfeita tem protagonista, coadjuvante, palco, figurantes e trajes perfeitos.
Como o palco, a noite perfeita também não é neutra. Ela favorece quem tanto a diverte nos últimos 2 anos.
De preto, de branco, com listras ou sem. As noites perfeitas no Brasil têm um mesmo dono desde 2013.
E não é só na tabela que o Galo está à frente dos outros.
@_LeoLealC
21 julho 2015
Cartão de visita
Além do domingo ensolarado, do clássico e da casa cheia, o dia também era especial pelo ingrediente a mais. Era o dia do grande jogador, da sua primeira vez no Maracanã diante da sua torcida.
Ele não deu muito certo no Flamengo, ao contrário de suas belas atuações no futebol gaúcho. Depois de fazer dinheiro no exterior, volta para o Rio, já longe do auge de sua carreira, para ajudar o novo clube a alçar voos maiores no Brasileirão, um título que ainda não tem.
O meia chegou para dar um toque de experiência ao time, que carecia de alguém de tal cacife no meio-campo. Eficiente nas bolas paradas, veio para ajudar o ataque a criar mais lances de perigo.
Reconhecido por seu talento, ainda tem a ginga e representa a nata do futebol brasileiro. Surgiu magricelo, habilidoso e driblador, chamando a atenção dos olheiros estrangeiros. Hoje, já na casa dos 30, sem a mesma explosão de outrora, se destaca nos bons passes e faz a diferença nas faltas. Mesmo que não seja o de antes, ainda sim será muito útil.
O nome no diminutivo mantém sempre o ar de garoto, moleque, travesso, filho de nosso futebol. Um ídolo para quem vai ao estádio vê-lo, um espelho para a molecada. Sem contar o marketing positivo que sua presença traz. As vendas de camisas aumentam, criam-se produtos usando sua marca, um lucro maior é gerado.
Sua contratação, nessa idade, torna-se um risco. Um atleta de alto salário pode causar ciúmes no elenco e, caso o desempenho não seja o desejado, pode-se tornar um prejuízo. Mas o que vale, no momento, é a expectativa.
E o que valeu, neste domingo, foi seu dia mágico.
Uma boa parte do público presente esteve lá por sua causa. E a primeira vez na frente de sua torcida no Maraca é diferente.
O debuto foi celebrado na tarde que beirou a perfeição. Além da festa, ele abriu o caminho para a grande vitória.
O dia era dele. E ele transformou em dia do Vasco.
Pode se empolgar, vascaíno.
Você tem Andrezinho.
@_LeoLealC
05 julho 2015
De Valdés a Sanchez. Enfim, Sanchez
"Caro Alexis Sanchez,
Você, meu nobre, com certeza ouviu falar, mas não tem ideia de como o ano de 1973 foi doloroso ao nosso povo. Caminhávamos sob a entropia e o desvario que a Guerra Fria nos salpicava. E após cairmos no penhasco do socialismo, colidimos de vez com o chão da amargura quando fomos puxados a mera força pelos americanos ao ingresso sanguinário à Escola de Chicago.
O 11 de setembro nos doeu muito antes das duas torres. Pinochet, aquele maldito!
Você também não sabe o quanto estávamos ansiosos para a peleja com a União Soviética naquele 21 de novembro. Era importante, valia vaga na Copa de 74. E principalmente porque tentávamos buscar no futebol alguns minutos de paz e sorrisos discretos, mesmo diante daquele solo tão ensanguentado, torturado, desalmado.
Fomos enganados. Eu era um daqueles 18 mil que compraram o ticket daquela partida para chegar ao estádio e me deparar apenas com aquele espetáculo musical mequetrefe da banda militar chilena. Os soviéticos nem sequer viajaram. Tinham medo, assim como eu, aqueles 18 mil e toda a população, entre eles, seus parentes.
O jogo não existiu. Nossa seleção pisou solitária e assustada no gramado. Não esqueço o semblante de Véliz ao perceber que garantiria sua maior glória profissional no mesmo local onde dias antes centenas de conterrâneos - dentre eles, familiares e amigos - haviam sido fuzilados.
Nosso escrete foi em direção ao gol vazio, fechando a dor com chave de tripa quando Valdés, aquele desgraçado, empurrou a pelota para a rede. Logo ele, que, mesmo sendo ídolo de meu amado Colo-Colo, jamais merecerá o perdão por apoiar aquele ditador.
Gol de Valdés. Gol de Pinochet. Gol da dor.
Gol mais triste de nossa história.
Eu paguei pra ver aquilo. E juro que me envergonho.
Fomos para a Copa e nossa atuação foi um enorme desastre, como um bom espelho do que era nosso país.
Nosso futebol, àquela época, quando associado à causa popular, era sinônimo de tragédia. Éramos massacrados dentro e fora de campo.
Mas quando você, Sanchez, foi em direção àquela bola, eu estava atrás daquele gol e lembrei daqueles anos em que nossa pátria era associada ao sofrimento, à tortura, ao medo. Lembrei de quando este estádio se tornou um cemitério clandestino de uma ditadura. Lembrei dos amigos que perdi, das vidas que se foram, da esperança que desmaiava.
Tu trataste a redonda com tanto carinho naquele arremate, menino. Tu ajudaste a corrigir, com a bola, a alcunha que um recinto havia adquirido em tempos onde a mesma era assombrosamente tratada com tamanho desprezo.
Tu acalmaste o espírito de todos aqueles corpos enterrados naquela terra. Tu colheste o sangue ainda ali respingado e injetaste em seus olhos. Tu entendeste, junto com todos os guerreiros da armadura vermelha, o que seu chute representava para aquela gente.
Tu pegaste um desfibrilador e acordaste de vez a esperança que se encontrava em coma.
Mas é só futebol!
Mas é só futebol?
Eu vi você, Vidal, Isla, Medel, Bravo, todos ricos, com a vida feita na Europa, se emocionarem como se tivessem salvo vidas naquele fim de tarde.
Não é só futebol. Não desta vez.
Vocês não salvaram vida alguma. Mas deram sentido a muitas.
Porque tiramos um mês para dar à nossa voz um formato esférico. Porque escolhemos o futebol para representar uma guerra e, mesmo após seu fim, vencê-la.
Porque almas que há tanto tempo subiram a partir daquele gramado, se convenceram, lá de cima, de que ali ainda há como o povo se orgulhar.
Porque a tortura, desta vez, foi de ansiedade, causada pelo entalo deste clamor em nós.
Há cerca de 42 anos, eu estava ali para assistir o nosso gol mais triste.
E neste pôr do sol, eu vi você, Sanchez, fazer o gol mais feliz de nossa história.
Obrigado por me dar a chance de ver isto enquanto vivo.
No mesmo palco, no mesmo solo, o mesmo futebol, o novo sentimento: a vitória. Agora, a transição mais bela.
Valeu a pena esperar.
Aos norte-americanos, que nos forçaram a sucumbir àquela ceifadora transição, mais uma semelhança histórica que, desta vez, a bola tratou de pintar: além do 11 de setembro trágico, fomos agora brindados com o 4 de julho da liberdade.
Em 2015, nosso grito de independência foi mais alto. Desenhado por uma pelota, traduzido para o castelhano.
Seus pés foram nossa garganta.
Obrigado, Sanchez."
Att.: Ramón Juanez Pereyra.
@_LeoLealC
Foto: Marcos Brindicci/Reuters
05 junho 2015
O favorito
Em cinco rodadas, o ponto máximo de conclusão que nos acostumamos a chegar é um prognóstico bem vago sobre parte de cima ou de baixo da tabela.
Mas entre tantos "se não melhorar", "se não contratar", "se mantiver a pegada", "se continuar levando os pontos em casa", o Galo chama a atenção por uma certeza que já nos impõe bem cedo neste campeonato.
Sport, Goiás, Ponte ou Atlético-PR começaram muito bem, podem fazer boas campanhas e talvez até brigar por G4, mas é bastante raro vermos um time médio mostrar regularidade em 38 rodadas. Para título, são cartas fora do truco.
E o Atlético Mineiro é o único grande que já mostra vontade de ser campeão.
Em cinco jogos, três vitórias. Três goleadas incontestáveis. Duas contra grandes e outra contra um pequeno fora de casa, onde às vezes apronta.
Quem viu os massacres contra Flu e Vasco, sabia, com 20 minutos de jogo, que o Galo venceria com facilidade. Por quê? Porque eles querem vencer. E pra isso, aplicam uma intensidade assustadora em campo, que se alia à superioridade técnica e domina o adversário por completo.
É um time que não senta em resultado. Se faz um, quer dois, se faz o segundo, quer o terceiro. E no meio deste futebol preguiçoso que virou rotina para muitos, ele voa.
O 4 x 1 no Avaí, que vinha bem, não é normal. Por melhor que seja o time do Atlético, chegar na Ressacada e tornar da partida um treino de luxo é para se ver com olhos diferentes.
Arrumado taticamente, homogêneo em peças e um objetivo claro. Enquanto 19 levam no "tanto faz" até terem noção de suas possibilidades no campeonato, o Galo é o único que já sabe o que quer. E até agora, faz por onde ter.
"Cansado" de milagres e de esperar até o último suspiro para soltar o grito, ele resolveu ser regular.
Dá pra cravar isso com apenas cinco jogos? Dá, pior que dá. Se não acredita, veja a reprise das três vitórias. A constância mostrada nos 90 minutos de cada é auto-explicativa.
E milagre, agora, será parar esta equipe.
O Sol ainda nem nasceu no Brasileirão, mas o Galo já canta alto.
O Atlético Mineiro é o favorito ao título. Em vez de esperar uma janela que só costuma abrir no segundo turno, ele já apresentou uma proposta tentadora à Taça.
Há negócio.
@_LeoLealC
02 junho 2015
A paz tricolor
Desde que a antiga patrocinadora se despediu, bastante se falou em um Flu coadjuvante para 2015. O que poderia ser visto por lados diferentes da moeda, sendo tanto cabível quanto incoerente a quem interpretasse.
Em minha leitura, também fazia sentido. Sem Conca, Cícero, com uma receita amplamente reduzida e uma interrogação nas apostas, eu esperava um ano difícil para o Tricolor.
Mas ainda há, nas Laranjeiras, quem saiba segurar o peso de uma crise premeditada. Ainda há quem segure o tranco num elenco que poderia se sentir perdido com duas trocas de treinador tão esdrúxulas.
Quando a previsão inicial é de um marasmo, a pressão por resultados acaba sendo menor. Assim, o Fluminense soube se beneficiar de nosso equívoco.
Sobe Vinícius, sobe Giovanni, sobe Gérson. Há Fred para carregar por aluguel o peso sobre os garotos, que já não é mais tão intenso que outrora.
Aliás, esse Gérson...
O Flu não é o mesmo de anos anteriores, mas é time para incomodar. E quando uma certa dupla resolver fazer o que sabe, a equipe viverá até momentos de brilhantismo.
Contra o desesperado Flamengo, o tranquilo Fluminense de garotos parecia um time experiente, calejado, tamanha eficiência quando se tinha a rara posse de bola.
Calmo, sereno, fazendo a bola correr contra um time que apenas corre com ela.
O Flu trabalha em paz. E com uma certa esperança.
Agora, há Gérson.
Ainda há Fred.
Este "coadjuvante" Fluminense já causa medo com estes dois protagonistas, que teriam o mesmo posto em qualquer outro grande do país.
E foi provado, no Fla-Flu, que a condição de franco-atirador está abolida.
@_LeoLealC
16 maio 2015
Maquinários, "mercenários e precários"
Não foi a imprensa que inventou o ótimo Corinthians do primeiro terço de 2015. Não era enganação, ilusão, nem precipitação.
O time que passou com tanta facilidade pelo grupo mais difícil da Libertadores estava voando, sim, e jogava o melhor futebol da competição. Merecia, sim, ser exaltado.
Eu vi uma máquina na primeira fase. Mas ela emperrou, e não foi do nada.
Há o crime do clube não pagar, o que diminui o rendimento de qualquer profissional. O que torna qualquer situação precária, mas nunca elabora uma legião mercenária. Profissionais têm o total direito de reivindicar o que é seu.
Houve o pecado de se escolher adversário e os corintianos comemorarem o fato dele ser o Guarani, que claramente é inferior.
O Corinthians se auto-conheceu contra o Once Caldas e criou a condição de favorito durante o grupo, onde gerou uma gordura pra queimar.
Mas em mata-mata, não há gordura.
Assim, um time com ares de memorável se desperdiçou. O futebol, maldoso, o queimou.
E a máquina imparável se torna patife, ociosa e energúmena.
Bendito seja o vocabulário da Fiel.
Maldito seja o motivo para proferi-lo.
@_LeoLealC
14 maio 2015
Chegou
As equipes de Cruzeiro e São Paulo compartilham de uma inconsistência que nos impede de cravar qualquer futuro a ambos neste ano. São times prontos, mas que ainda não possuem o tal do algo a mais para passar confiança.
Eles ainda têm medo, ainda são inseguros. E por isso, era de se imaginar que, fora de casa, os dois atuassem como pequenos.
Assim, o confronto foi igual, justo e esperado. O domínio do São Paulo no Morumbi foi idêntico ao massacre cruzeirense no Mineirão. Da mesma forma que a Raposa poderia ter feito mais dois, três e passado sem a necessidade dos pênaltis, o tricolor poderia golear na ida e administrar o resultado na volta.
Estar entre os 8, para qualquer um dois, seria lucro. Coube à loteria dos pênaltis decidir o felizardo. Sim, loteria, pois até o mérito dos goleiros foi igualmente dividido e o que decidiu foi uma cobrança pra fora.
O Cruzeiro está lá. E quando ouço a palavra crise quando alguém se refere à Raposa, reflito e acho graça.
Como eu queria que meu time estivesse vivendo este pesadelo de ser o atual bicampeão brasileiro e estar agora entre os 8 da América! Que vida triste, não?
Ultimamente, uma das poucas certezas que temos no futebol é a de que talvez dê Cruzeiro. Levando ou não, ele está sempre protagonizando.
Ele chegou, de novo. E a autoridade mostrada nesta quarta lhe tira qualquer condição de azarão.
Faltam seis jogos e o Cruzeiro não é mais surpresa.
A incerteza, agora, é sua aliada.
@_LeoLealC
24 abril 2015
Sim
Não era para haver este sufoco. Eu sei, eles amam, mas logo tão cedo?
Não era para este peso tão grande cair nas costas de quem já se calejou por estar na competição pela terceira vez seguida e tem um histórico recente tão vasto de decisões.
Não era para se complicarem tanto no meio de partidas que estavam na mão por se pilharem com arbitragem e jogo violento dos adversários, numa inocência de quem parece novato em Libertadores.
Eles não aprenderam a jogar a Libertadores, mas sim conheceram o impossível, descobrindo que ele é alcançável. E isso traz anticorpos suficientes contra qualquer peculiaridade copeira.
Ao término do jogo no México, era senso comum: eles não mereciam se classificar.
Mas quem vai bancar tal premissa quando o homem do apito inicia a batalha naquela arena tão parcial, que funciona só de um lado? Quem teria a audácia de concordar com esta errata na frente daqueles dissimulados do lado de fora que fingem estar acreditando, quando na verdade têm certeza?
Eles têm sorte. Ao tombarem em terras arribas, transformaram o último jogo em confronto direto, anteciparam um mata-mata e ganharam mais uma missão "impossível". A partir dali, não era mais necessário "saber" jogar a Liberta.
O adversário é cascudo, "sabe" disputar a competição. Mas dentro daquela arena, qualquer diploma de Libertadores é rasgado. Não adianta, ela é parcial, injusta.
Não era pra ser.
Foi. De novo.
Quando o pênalti é falho, cria-se o receio de que há alguém por baixo daquela fantasia e o medo de que tratem-se apenas de seres humanos. Até que a haste cria vida e o libertador petardo derrota as mãos, as luvas e o vento, buscando de volta aquela saborosa ilusão tão real.
Sim, eles podem.
Sim, eles são super-heróis. Até que provem o contrário.
Ainda não provaram.
@_LeoLealC
21 abril 2015
Respeite. Em campo
Foi pênalti? Não. Influenciou no resultado? Sim. Mas trata-se da mesma arbitragem pífia cujo erro garantiu o título para o Flamengo ano passado.
O problema não é o Vasco ter sido favorecido domingo, nem o gol do Márcio Araújo. Lamentável é o protagonismo no pós-jogo de uma decisão entre Fla e Vasco estar no sopro do apito pelo segundo ano consecutivo.
Não, não estava planejado "roubar" para o Rubro-Negro em 2014. Assim como nada estava premeditado para o Cruzmaltino esse ano, mesmo com tantas coincidências. Se estivesse, no mínimo, Jonas seria expulso na primeira partida.
Não há notas oficiais nem documentos que me provem o contrário, sendo assim, prefiro manter esta crença. Pois no dia em que perdê-la, toda minha empolgação com o futebol tomará o mesmo rumo da Portuguesa de Desportos.
Não se fala mais em futebol quando Flamengo e Vasco se enfrentam. Os assuntos são as lembranças de "roubos", as ameaças e as previsões de quando irão "roubar" novamente.
Assim, bendita seja a poça da Taça Guanabara, que deu a única história pura e sem bastidores do confronto no Campeonato.
Mas quebrarei a regra. Falarei de futebol.
O Vasco mereceu a classificação.
Por quê? Porque foi melhor nos dois jogos. Enquanto o adversário estava pilhado e se preocupando com a arbitragem antes mesmo dela errar, ele estava buscando apenas correr atrás da vantagem rubro-negra.
O Flamengo, por causa de uma contratação, pensou ter montado um timaço, tendo como base atuações contra Cabofriense, Boavista e Bonsucesso, e que sua superioridade ao rival era enorme. Entrou pro chutão, pro contra-ataque e para garantir o que já lhe parecia estar certo. E nada é mais irritante que o pensamento de que "só a arbitragem pode nos tirar".
Ela tirou. Mas o Vasco também.
Veja o VT do confronto entre as equipes no Amazonas, em janeiro. Note a inércia rubro-negra e a evolução vascaíno. A equipe de Doriva olha pra frente desde a pré-temporada. Com este comandante, há futuro.
O Fla estagnou e busca na correria a salvação de todas as jogadas. Tendo que correr atrás do resultado, as chances desta tática funcionar despencam.
Já o Vasco, que depois de um acesso vergonhoso, não animava qualquer vascaíno para a temporada, já é outro e merece, sim, respeito.
Mas respeite o Vasco de branco, que joga bola, cresce a cada jogo e acabou com o jejum eliminando o rival quando este era favorito. Esqueça aquele vasco barrigudo, do charuto - e da letra minúscula -, que não dá qualquer certeza sobre o futuro da instituição nas mesmas mãos que já a levaram para fundo do poço.
O Vasco da Gama não venceu a partida nos bastidores. Caso eu esteja errado, os vascaínos seriam os que mais deveriam se preocupar.
Erros de lado, venceu quem soube jogar o jogo que lhe era proposto desde o início.
O Flamengo, no outro domingo, veio para uma luta de MMA. Neste, para jogar futebol americano.
O Vasco jogou xadrez. Nos dois.
O xeque-mate vale mais que um touchdown. E muito mais que um nocaute.
@_LeoLealC
14 abril 2015
Vale tudo
Aos 15 minutos, o - perdoem-me - germano-cangaça Jonas aplica um Chucknorring Kick no rosto de Gilberto. Lance claro de expulsão, mas o árbitro 3141 nada faz. A partir dali, inicia-se um novo confronto.
Acabava o futebol, táticas, tudo. A grama, se tornava um tatame sangrento.
Ao permitir aquele coice frontal, o juiz autorizava qualquer manifestação agressiva, independentemente do local atingido. Se vale o que fez Jonas, tudo pode.
Pode, Cirino, solar a canela do - perdoem-me novamente - leal e singelo Guiñazu. Pode, Dagoberto, socar o pulmão de Bressan, Podem, Wallace e Rodrigo, trocarem socos e chutes como apertos de mão.
'Só não vale dançar homem com homem, nem mulher com mulher..."
E nem jogar bola.
Particularmente, não acho isso tão necessário quando se trata de um clássico num mata-mata.
Vaga em aberto, tempo fechado e a pior conclusão imaginável:
O clássico - me desculpem, de novo - foi bom, sim.
Mesmo que não tenha sido, de fato, um jogo de futebol.
@_LeoLealC
08 abril 2015
Piu!
Pode-se chamar o tento de Jonas como golaço, da mesma forma que, sem tirar o mérito do belo chute, pode-se questionar o posicionamento de Cavalieri no lance.
O flamenguista pode se empolgar com o placar tão elástico, ao mesmo tempo que pode se preocupar com a sonolência e a pressão que a equipe sofreu em um pedaço do segundo tempo, mesmo com um a mais. Ou, talvez, achar um meio termo e ver a atuação como suficiente, entendendo o relaxamento quando a vantagem já era de dois gols.
O Alecsandro vê sua jogada do segundo gol como um lance de "muita inteligência". Mas ele também pode ser visto como uma saída sortuda de uma besteira que o atacante ia fazendo ao entrar na área.
O tricolor pode ter desanimado após a chacoalhada sofrida e estar com medo da desclassificação, assim como pode enaltecer a luta da equipe na segunda etapa e enxergar o placar como mentiroso. Com um a menos, tendo que ir pra cima contra uma equipe cuja principal virtude é o contra-ataque, a missão é quase impossível.
E por que um a menos? Talvez aí encontremos o único consenso da partida. Fred não merecia o vermelho. E mesmo que o juiz possa ter seguido o critério usado para o cartão amarelo de Gabriel um pouco antes, em um lance muito parecido, lembremos, assim, do primeiro amarelo do atacante tricolor, que também foi estranho.
De um jeito ou de outro, Fred foi mais cedo pro chuveiro injustamente. O que praticamente selou o resultado. Ou não. Pela característica do Flamengo, era completamente possível que o time também pudesse achar um contra-golpe no segundo tempo e matasse o jogo.
Criam-se, então, zilhões de teorias e acusações. Pode-se pensar que a federação X-9 Morre Cedo prejudicou o Flu na cara-dura, ou apenas enxergar o erro grotesco como incompetência do árbitro, visto que o Fla está do lado do Tricolor nos protestos e, portanto, não faria sentido beneficiar o Rubro-Negro.
E se o advogado do Fluminense estiver certo e a tentativa for justamente colocar um clube em racha com o outro?
Tudo se interliga. Menos o Fla-Flu de domingo com as manchetes puramente esportivas.
Afinal, este não dá qualquer certeza. Nem aos times, nem quanto ao campeonato, seu futuro e muito menos os seus pontos positivos.
Quais, se até um Fla-Flu com Maracanã cheio vai contra?
O Carioca tem que acabar? Ainda não sei.
Mas, depois de sair da boca da principal estrela da competição o que todos discutem há pelo menos meia-década, vemos que o senso está cada vez mais comum.
O Carioca está acabando.
@_LeoLealC
02 abril 2015
Desumano
Não, o título não é sobre aqueles seres que procuram na cor da pele uma forma de fantasiar alguma superioridade quando estão sendo humilhados no exercício de suas profissões.
Não, também não é um trocadilho infame provocando o ex-treinador.
Falo da capacidade deste time em fazer seu futebol chegar perto de uma ciência exata.
É estranho. Não há receio quando se está diante de um grande. Não há freio-de-mão quando o adversário é fraco. Não há acomodação no resultado que se constrói.
Não há qualquer desequilíbrio técnico, nem emocional.
O Corinthians é o mesmo, do início ao fim, de uma área a outra. Em cada pedaço onde a redonda se encontra, lá está alguém de branco levando a melhor na jogada e tendo a certeza de que em algum momento eles conseguirão o objetivo.
Não importa o adversário, nem o que ele fizer para evitar o domínio. Em alguma hora, o Timão encontrará e aproveitará uma falha.
O Corinthians não falha. É como um robô programado para escolher a melhor opção em todos os lances.
Ele pressiona, abre o placar e, assim, o jogo é dele. Contra o Corinthians de 2015, você corre atrás da bola, enquanto uma máquina te deixa sem o que fazer.
Se você sai pro jogo, toma. Se fica e espera a "boa", ela não chega. É simples, exato e nunca negado pelo resultado.
Enquanto outros dois adversários representados humanamente se desdobram pela classificação, o seguro e calculado Timão matou o grupo da morte com uma facilidade assustadora.
Para chegar ao mata-mata como favorito e, até que alguma conta dê um resto a essa divisão, imbatível.
No Itaquerão, o futebol se mecanizou.
Uma máquina predomina no futebol brasileiro e na Libertadores.
Nesse caso, as contas são confiáveis. E pelas minhas, não é apenas uma boa fase.
@_LeoLealC
Não é tão grave
Abaixo do que o elenco sugere, sim. Mas nesta quarta, o São Paulo, que nem tempo de aquecer teve, conseguir jogar de igual pra igual na maior parte do tempo dentro do medidor de flatulências.
Fora de casa, apesar do ambiente familiar que a dificuldade em se mover um automóvel pra frente o sugeriu, o Tricolor não ficou retraído buscando um empate ou, quem sabe, sair no lucro com algum surto de genialidade de quem vem adquirindo poderes de camuflagem e não é mais visto em campo.
Vítima de um lance de brilho ímpar, o São Paulo tem que saber o exato tamanho da derrota desta quarta e de sua atuação.
O jogo equilibrado foi decidido com um golaço. E não me venha com esse papo de "Toloi". Dane-se o Toloi! O mérito do argentino foi bem maior que a possível falha do zagueiro. Golaço e ponto!
E o resultado, que doeu, não deixa de ser normal.
É o grupo mais difícil da competição, onde estão o atual campeão e o rival que vive um momento mágico. Logo, uma eliminação nessa primeira fase não seria uma vergonha. São três grandes e só dois passam. De qualquer jeito, alguém terá que sofrer o "vexame".
Vergonha, talvez, tenha sido o massacre sofrido na Itaquerão, onde o placar foi bem modesto para o que foi o jogo. Vexame seria tropeçar no saco de pancadas do grupo dentro Morumbi, ou até não vencer os argentinos em casa.
Dos quatro jogos até agora, as duas vitórias em casa eram obrigatórias. E o Tricolor as conquistou. Perdeu os dois em que a derrota era aceitável.
Agora, a tabela é mais fácil que a do San Lorenzo. O São Paulo enfrenta o horroroso Danúbio e o já classificado Corinthians em casa, enquanto os argentinos vão pra Arena enfrentar o Timão buscando a liderança.
Por cálculos lógicos - não faça, são contra-indicados em caso de sóquer -, um empate contra o Corinthians garantirá a vaga.
A missão são-paulina está bem longe de ser esse bicho de sete-cabeças que está pintando.
Ontem na Argentina, ainda não era um vida ou morte. Portanto, o São Paulo não morreu.
Ele está internado, mas consciente. Basta seguir a recomendação médica à risca.
Dentre elas, a mais complicada talvez seja torcer para o Corinthians.
O grupo da morte ainda não matou o São-Paulo.
E mesmo com 10 em campo, ainda há colete e munição.
@_LeoLealC
Foto: Rubens Chiri/São Paulo FC
01 março 2015
Lendas. O passado como presente
Reza a lenda que qualquer clássico carioca deva ser obrigatoriamente realizado no Maraca. Pede, ela, que o domingo esteja ensolarado e que nuvens não atrapalhem a visão do Cristo.
Reza a lenda que Deus é brasileiro. Abusados, reproduzimos seu filho em cimento para chamá-lo de carioca. Como dever e agrado, lhe oferecemos esta vista privilegiada.
Hoje, mais do que nunca, Ele queria ver. Era uma data tão simbólica para aquele povo, sendo comemorada logo no maior salão de festas do planeta.
Festa. Reza a lenda que esta palavra, antes do jogo, causa calafrios nos adeptos de certa religião rubro-negra. Nos seus 10 mandamentos, está presente: "Não festejarás antes da peleja".
Lendas. No Glorioso, são inúmeras. Histórias de encher livrarias e muitas, muitas reproduções em preto e branco. Botafogo, Maracanã, listras, festa.
Festa. Eles nunca a esperam. Não é humildade, e sim uma falta de confiança que chega a irritar.
Há 450 primaveras, surgia o Rio de Janeiro. Centenas de anos depois, chegava o futebol para trazer a perfeição a algo que já não víamos defeito.
O moleque, que fica mais velho apenas na idade, gosta de bola. Muito! Mas também é apaixonado pelos contos e lendas que ela cria no seu chão.
E hoje, como presente, ele queria tudo isso junto.
Pois reza a lenda que, independente do que valha, nenhum embate entre gigantes no Gigante deva durar apenas 90 minutos.
Deve se iniciar bem antes do apito inicial e percorrer memórias por anos e anos após o apito final.
O cada vez mais antigo moleque teve, então, um dia de futebol à moda antiga.
O simbólico dito dos "50 mil" só não se transformou em número concreto por caprichos de margem de erro. Havia despedida e festa antecipada de um lado, desobedecendo uma de suas principais leis, enquanto o outro estava lá, sempre esperando menos de si.
Surge, então, a lenda do gol espírita e o conto da despedida carimbada.
À antiga, à preto e branco. Não mais nas telas, nem nas figuras.
Na camisa. À Botafogo.
E quem menos esperava a festa ganhou o primeiro pedaço do bolo.
Parabéns, Botafogo.
Feliz aniversário, meu Rio.
De presente, mais uma história, contada ao som de um dos seus hinos oficiais:
"Alô Torcida do Flamengo, aquele abraço...".
@_LeoLealC
Foto: Wagner Meier/LancePress
Missão. Consciência. Fé
E nessa mesma época, três anos atrás?
Seu time, que viera de mais uma fuga de rebaixamento no Brasileirão anterior, iniciava o rivotrílico Campeonato Mineiro com vazias esperanças de um 2012 próspero. Você estava empolgada com a volta do Danilinho, lembra?
Não havia qualquer sonho de Ronaldinho, nem se falava em Jô. Tardelli ainda era muita areia pro seu caminhão, Bernard ainda era um menino a despontar.
Fazia muito, muito tempo que seu time não levantava uma taça que não fosse de estadual, lembra?
Seja sincera: isso fazia alguma diferença?
O Galo não tinha craques, nem esperança. Não possuía agradáveis memórias recentes, nem troféus sem poeira.
Mas ele tinha você, que dali em diante foi a principal responsável por ele ter chegado onde chegou.
De lá pra cá, você não viveu qualquer coisa diferente da rotina que caminhou nos últimos 30, 40 anos. A única diferença passou a ser o final das histórias, que enfim resolveu contrastar com aqueles dolorosos que tu estavas acostumada.
E agora você aparece desse jeito, mimada, debochada, com tanta frescura?
Não achas um abuso, ainda mais para quem enchia a boca pra dizer que "não torço pra títulos, torço pro Galo"?
Sim, aquele restaurante chique é ótimo. Poder frequentá-lo todo fim de semana, algo antes inimaginável, é maravilhoso. Mas o cachorro-quente daquela barraca na esquina não perdeu o sabor. E não é vergonha nenhuma voltar ali de vez em quando.
Esqueça a obrigação e continue acreditando nos milagres. É a sua essência, e jogá-la no lixo de uma forma tão passiva seria um crime.
Você sabe mais do que eu o poder de sua voz. Portanto, deveria estar ciente que nunca deveria usá-la para demolir o que tanto ajudou a construir.
Troque uma vaia por um "Eu acredito". Os resultados já foram comprovados pela ciência.
O Atlético vai mal das pernas. O time não se encontra, a principal contratação está no departamento médico e, com essa bolinha que está jogando, dará adeus à Liberta já na fase de grupos.
Mas pare de ser fresca! Você já viveu coisas bem piores.
Dá pra sair dessa? Dá!
Desde que você deixe de mal-criação, pois ele precisa de você.
Que vá, que cante, que incline ainda mais o Horto.
Que acredite.
O Galo tem mais uma missão de transformar o improvável numa história pra contar.
Ultimamente, isso não tem sido tão difícil.
É com você, Massa. De novo.
@_LeoLealC
Foto: Getty Images
24 fevereiro 2015
Ao menos, um vencedor
É oficial: chegamos ao cume do caos. Neste glorioso caminho, passamos pela infanto-orgulhosa "Lei da Mordaça", já exterminada - aplausos - por algum sujeito por ora iluminado com um leve raio de bom-senso e fomos obrigados a aceitar o roubo - desculpe, não há denominação mais leve - nas rendas, vendo os clubes pagarem pra jogar um campeonato no qual 2 meses são de amistosos.
Domingo, tivemos o primeiro clássico. Ele seria disputado no Maracanã, o único palco digno e preparado para recebê-lo na cidade. Porém,, em mais uma de suas ideias geniais, a FERJ transferiu a partida para um estádio em obra. Por quê? Porque a federação não teve pulso firme para tomar uma posição nessa taça-bolinhante briga de egos traduzida como "lado direito".
Em tempo: embora eu ache esta briga uma tremenda futilidade política e concorde que este lugar deveria ser da torcida do Vasco, o Fluminense tem o direito por contrato. Portanto, enquanto não me provarem judicialmente o contrário, não há razões legais para tirar os tricolores dali.
Então, ou a FERJ mudaria o local, ou bateria o pé deixando o jogo no Maraca com a torcida do Flu no lado direito, podendo assim criar um atrito com Eurico.
Dentre as duas opções, ela, como esperado, escolheu a mais covarde.
Resultado: clima de guerra nos arredores apertados do Niltão e de velório dentro do estádio, que teve um público menor que Botafogo x Nova Iguaçu, disputado no sábado.
Ao invés de deixar a partida no Maracanã, cujo entorno mais largo e de fácil acesso evitaria que os animais "organizados" colocassem em risco aqueles que fossem apenas para torcer, ela quase causou uma tragédia.
Deixa pra lá. Estou falando demais. Vai que a Lei da Mordaça volta e eu sou multado... Melhor falar do jogo mesmo.
Só vi um time em campo. O outro, parece que pensou que o jogo seria mesmo no Maraca e não apareceu no Niltão.
O pênalti marcado é contestável, assim como o não-marcado no primeiro tempo. Da mesma forma que cabe discussão na expulsão de Rafinha, mas também há na não-expulsão do Cavalieri.
Há dúvidas com relação a quase tudo na partida, principalmente na legitimidade do diploma do oftamologista do árbitro.
Incontestável, ali, apenas a vitória do Vasco.
Tamanha superioridade da equipe já diz muito, mas ainda não esclarece tudo. Fica a dúvida sobre o quanto falta para poder dizer que está pronto. A certeza é de que o caminho, que ainda é grande, já é menor do que parecia.
Ainda é cedo, e um amistoso no Charuton's League não vai ditar o que acontecerá daqui pra frente. Mas agora, as dúvidas quanto ao Vasco dão esperanças. As interrogações, para o Flu, ligam o alerta.
Em mais um dia onde retrocedemos tiranossauricamente no futebol carioca, pelo menos alguém foi dormir com saldo positivo.
E no meio da federação que amarela, dos marginais que arruinaram a estação ferroviária, do estádio em obra, do público vergonhoso e do Fluminense perdido em campo, o Vasco foi o único que olhou pra frente.
Leia-se: os 11 em campo, apenas.
@_LeoLealC
09 fevereiro 2015
A exceção
Desde passados dercyzíacos, árbitros são tratados como paspalhos em relvados terrestres. Por não serem profissionais - o que não é culpa deles - e receberem bem menos que jogadores, são vistos pelos mesmos como "os caras que estão ali para errar e atrapalhar o jogo".
Claro, os apitadores colaboram com este desprezo. A maioria não sabe o significado da palavra imposição e, na arbitragem, o confunde com abuso de autoridade.
Árbitros estão em campo para fazerem as regras serem respeitadas e cumpridas. Só.
Quem ultrapassa este ponto, acariciando o próprio ego e querendo martelar que está acima de tudo, merece, de fato, ser reconhecido como um frustrado que não deu certo com a bola.
Há o outro lado, os que permitem surgir uma bagunça porque "todos fazem igual" e se deixam levar pelo medo da polêmica. Também são dignos de tal alcunha.
Não é certo dar vermelho a um atleta por qualquer motivo bobo apenas para mostrar que "eu que mando". Sim, são eles que mandam. Mas essa atitude transformaria a autoridade em uma descartável vontade de aparecer.
Da mesma forma que é uma covardia não cumprir a regra num lance que passaria despercebido por causa do pânico em ser o assunto do dia seguinte.
Sim, árbitros odeiam ouvir seus nomes nos programas esportivos.
E hoje eu ouvi um; Raphael Klaus.
Ele já havia mostrado o primeiro amarelo ao Cássio. Podia muito bem dar aquela famosa bronca, ouvir a vaia passageira da torcida palmeirense e descontar tudo nos acréscimos. Passaria batido e o goleiro continuaria a cera em todos os tiros de meta, como sempre aconteceu em qualquer lugar.
Mas e daí? Pra que cair na malandragem de mais um só porque ninguém faz o que deveria ser o certo?
Dane-se que ainda estava no início do segundo tempo! Ele puxou o cartão e, corretamente, expulsou o corintiano.
Klaus foi homem. Entendeu sua função ali e apenas a executou. Se impôs, no verdadeiro significado da palavra.
Ele teve medo, mas não de ser polêmico, e sim de ser covarde.
Por isso, acertou em cheio. Por isso, até vou poupá-lo de questionar se ele teria a mesma frieza para tomar tal atitude no Itaquerão.
Como prêmio pela coragem, seu nome nem será tão falado nesta semana. O Corinthians venceu, mesmo com um a menos. Portanto, ele não influenciou no resultado.
Mas eu repito: Raphael Klaus!
O lance de Cássio foi bobo. Sua expulsão, não.
E o paspalho, dessa vez, não foi o árbitro.
Que sirva de exemplo.
@_LeoLealC
03 fevereiro 2015
Boa noite
- Quanto foi o jogo?
- Ganhamos de 3x0.
- Ué, então por que essa revolta?
- Contra o Madureira né, cara? Não era mais do que obrigação.
- Mas o time fez a obrigação. Estás reclamando do que?
- Ah, vários erros na defesa! Toda hora o Timbalada saía livre pela esquerda.
- Início de temporada, cara. Ninguém está 100%, sem contar que o time deve ter relaxado quando o jogo estava ganho.
- E daí? Eles têm que correr. E aquele gramado? Meu Deus! Coisa horrível...
- Isso eu concordo. E aquele juiz perdido? Nossa...
- Estádio vazio! Também, com esse preço absurdo dos ingressos...
- Mas agora está barato.
- Não mesmo! Pra ver isso aí, não pago mais do que 2 reais.
E assim viveremos até meados de abril, quando chegará o mata-mata e enfim os Estaduais terão algum sentido.
Vem aí dois meses de ócio, corneta, crise por vitória de 1x0 na Caldense, jogos estapafúrdios e algumas ilusões quando o reserva entrar no segundo tempo, driblar dois zagueiros do Mogi Mirim e marcar um golaço.
Nesse tempo, 5 felizardos que estarão na Libertadores terão, pelo menos, algumas de suas quartas-feiras salvas por doses latinas de competitividade.
Teremos, então, mais um ano no qual todos são contra os estaduais "falidos e ultrapassados", mas que ninguém senta pra discutir uma reformulação e ditar um rumo ao nosso perdido calendário.
Neste fim de semana, os 12 grandes jogaram. Você sabe o resultado de algum jogo fora o do seu time?
Só se falou em Macaé x Flamengo. Por quê? Porque bandidos invadiram o vestiário, Paulo Victor rasgou a cara e Alecsandro foi pro gol.
O jogo? Foi 1x1, sabia?
- Que jogo?
Eu vou é dormir! Me acorde no mata-mata.
E uma boa noite a todos.
@_LeoLealC
24 janeiro 2015
Menos dois
Os dois melhores jogadores do Brasileirão 2014 foram embora e isso já não nos causa tanta surpresa. Não adianta, ainda não temos bala na agulha para competir financeiramente com Europa, Estados Unidos, Oriente Médio e agora... China!
Pois é, a China! É esse o destino deles. E é isso que me deixa curioso.
Não sei o que se passa na cabeça do Tardelli, nem na do Goulart. Também não sei o que eu pensaria tendo em mãos uma proposta que me deixaria milionário e garantiria minha independência financeira pro resto da vida. Por isso, não reprovo de cara as transferências. Apenas acho estranho.
Não creio que houve interesse de algum grande europeu por eles. São excelentes jogadores, mas não nesse quilate. E se for pra acabar num Chievo da vida, é melhor se esconder do mundo e abarrotar a conta bancária. Só não acho que era essa a hora certa.
Os dois são jogadores de Seleção e com certeza não estavam passando fome com a "miserinha" que embolsavam em ares belzontinos. É ano de Copa América, o primeiro após o maior fiasco verde-amarelo na história, portanto, ano de renovação. E eles fazem (iam) parte dela.
Agora, se aparecer outro meia e outro atacante para buscar a Amarelinha e deixar Dunga na dúvida, o campeonato Shing-Ling vai pesar contra os dois.
Será que vale trocar os dois atuais melhores times do Brasil e complicar a vaga na Seleção por causa de dinheiro? Ainda mais pra quem já é rico?
Repito: é fácil opinar de fora, sem se por no lugar deles. Qualquer um balançaria com uma oferta desse naipe.
Mas creio que foram decisões precipitadas.
Pro Tardelli, que é titular da Seleção. Pro Goulart, que é novo e ainda tem bastante a evoluir.
Na China, ninguém evolui o futebol.
Não era melhor deixar pro final da carreira?
Afinal, lá, eles teriam vaga e dinheiro até de muletas.
@_LeoLealC
13 janeiro 2015
Dudu, o aviso
Não sei ao certo o tamanho do ganho técnico que o Palmeiras terá com essa contratação. Sei que ele não é um Neymar, apesar de ter sido tratado como tal nessa impotente novela.
Sei também que trata-se de um atacante de respeito, que foi muito bem em 2014, e que o Porco precisava muito dele.
Zé Roberto, mesmo com 40 anos, ainda rende. Gabriel e Amaral são bons volantes, que podem formar uma dupla muito útil ao meio-campo. Rafael Marques é um baita reforço. Leandro se destacou em Chapecó, até acho-o melhor que Henrique. João Paulo... Tá, é um cara legal.
As aquisições do Palmeiras eram boas, mas faltava a contratação.
Dudu não é o cara de fechar aeroporto, lotar apresentação nem alavancar a venda de camisas, mas estava sendo disputado por dois rivais que viviam em vantagem com relação ao Verdão nas negociações desses últimos anos.
E o Palmeiras levou.
Para mostrar que cabe olhar para este time que está se formando. Para dar esperanças de um fim dessa bagunça que atormenta o Palestra nesta década. Para apresentar um trabalho sério, uma tentativa de reerguer o clube.
Isso com o mesmo cara que reergueu um clube acertando no bom e barato e deixou-o como bicampeão brasileiro.
Se ainda não é o suficiente para impor medo, há pelo menos o respeito.
Dizem que o Palmeiras está atirando para todos os lados e logo logo isso será a barca do fim de 2015. Eu não vejo por esse lado. O time precisava de pelo menos meio time de reforços para chegarem botando o colete de titular no treino. Portanto, buscou.
E esses contratados seriam titulares em muitos grandes no país.
Acreditem: o Porco está montando uma boa equipe.
Com bons, baratos e Dudu.
E além de ganhar uma ótima opção em seu ataque, o Palmeiras ganha moral para iniciar 2015..
Ele precisava dos dois.
@_LeoLealC
12 janeiro 2015
O dono do mundo
Com todo respeito ao Neuer, melhor goleiro do mundo, que fez uma Copa do Mundo fantástica, goleiros mereciam ter apenas a premiação separada na FIFA, mas com mais destaque. Pois no dia em que um goleiro levar o prêmio de melhor do mundo, o futebol estará assinando um pré-atestado de óbito.
O melhor do mundo é aquele cara que faz você ver um jogo sem nenhum apelo, que não é de seu time, apenas por saber que ele estará em campo.
É aquele que brinca com a bola e decide um jogo como se estivesse na infância se divertindo com os amigos. É o cara que transforma um jogo fraco em memorável por causa de um lance.
É quem bate os recordes, quem ganha os títulos, mas é quem se destaca mesmo sem uma taça.
É o que inspira os mais novos, o que é aplaudido pela torcida adversária. É o que é notícia, assunto. É o que cria sua marca.
É o cara que causa ódio em muitos.
O melhor do mundo, hoje, é Cristiano Ronaldo.
É absolutamente compreensível que CR7 seja odiado. É mais do que normal ele ser chamado de bicha, fresco, arrogante, marrento e prepotente. Eu mesmo fiz um trocadilho infame com seu tri em Bolas de Ouro, dizendo que ele estava triste por deixar de ser bi.
Não vamos odiar o Éder Luís, o Anselmo Ramon e o Gum. Por isso, não diremos nada que possa provocá-los. Faremos isso com Cristiano Ronaldo, na forma mais limpa e involuntária de respeito que um anônimo qualquer pode tratar alguém que consegue com tanta facilidade algo que já sonhamos quando criança.
Cristiano é assunto o tempo todo. E, se tratando de um cara que esconde defeitos como jogador, usamos o gel em seu cabelo para termos uma piada e chamar a atenção.
Enquanto isso, lá está ele fazendo golaços, ganhando títulos e pegando uma modelo atrás da outra.
Confesso que, no geral, ainda prefiro Messi como jogador. Porém, Messi é só jogador. Portanto, não merece ser o melhor do mundo.
E no momento, esse cara é Cristiano. Até como jogador.
Acho uma enorme palhaçada ficar discutindo raivosamente sobre dois dos maiores jogadores da história que temos o privilégio de acompanhar como quem discute Fla x Vasco e Galo x Cruzeiro. Mas se houver essa discussão hoje, é bom que o lado do argentino esteja com a humildade em dia.
Porque a Bola de Ouro e o mundo, hoje, têm outro dono.
Que usa gel, olha pro telão e não tem medo de dizer "Eu estou aqui".
E quem vai discordar dele?
Cristiano é o cara. Cristiano Ronaldo é o melhor do mundo. .
Quanto a nós, resta cumprir o protocolo e aplaudi-lo ou odiá-lo baseado em nada para confirmar que ele é o cara.
Portanto, parabéns, seu arrogante escroto!
@_LeoLealC
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