01 março 2015

Lendas. O passado como presente


Reza a lenda que qualquer clássico carioca deva ser obrigatoriamente realizado no Maraca. Pede, ela, que o domingo esteja ensolarado e que nuvens não atrapalhem a visão do Cristo.

Reza a lenda que Deus é brasileiro. Abusados, reproduzimos seu filho em cimento para chamá-lo de carioca. Como dever e agrado, lhe oferecemos esta vista privilegiada.

Hoje, mais do que nunca, Ele queria ver. Era uma data tão simbólica para aquele povo, sendo comemorada logo no maior salão de festas do planeta.

Festa. Reza a lenda que esta palavra, antes do jogo, causa calafrios nos adeptos de certa religião rubro-negra. Nos seus 10 mandamentos, está presente: "Não festejarás antes da peleja".

Lendas. No Glorioso, são inúmeras. Histórias de encher livrarias e muitas, muitas reproduções em preto e branco. Botafogo, Maracanã, listras, festa.

Festa. Eles nunca a esperam. Não é humildade, e sim uma falta de confiança que chega a irritar.

Há 450 primaveras, surgia o Rio de Janeiro. Centenas de anos depois, chegava o futebol para trazer a perfeição a algo que já não víamos defeito.

O moleque, que fica mais velho apenas na idade, gosta de bola. Muito! Mas também é apaixonado pelos contos e lendas que ela cria no seu chão.

E hoje, como presente, ele queria tudo isso junto.

Pois reza a lenda que, independente do que valha, nenhum embate entre gigantes no Gigante deva durar apenas 90 minutos.

Deve se iniciar bem antes do apito inicial e percorrer memórias por anos e anos após o apito final.

O cada vez mais antigo moleque teve, então, um dia de futebol à moda antiga. 

O simbólico dito dos "50 mil" só não se transformou em número concreto por caprichos de margem de erro. Havia despedida e festa antecipada de um lado, desobedecendo uma de suas principais leis, enquanto o outro estava lá, sempre esperando menos de si.

Surge, então, a lenda do gol espírita e o conto da despedida carimbada.

À antiga, à preto e branco. Não mais nas telas, nem nas figuras.

Na camisa. À Botafogo.

E quem menos esperava a festa ganhou o primeiro pedaço do bolo.

Parabéns, Botafogo.

Feliz aniversário, meu Rio. 

De presente, mais uma história, contada ao som de um dos seus hinos oficiais:

"Alô Torcida do Flamengo, aquele abraço...".

@_LeoLealC

Foto: Wagner Meier/LancePress

Missão. Consciência. Fé


E nessa mesma época, três anos atrás?

Seu time, que viera de mais uma fuga de rebaixamento no Brasileirão anterior, iniciava o rivotrílico Campeonato Mineiro com vazias esperanças de um 2012 próspero. Você estava empolgada com a volta do Danilinho, lembra?

Não havia qualquer sonho de Ronaldinho, nem se falava em Jô. Tardelli ainda era muita areia pro seu caminhão, Bernard ainda era um menino a despontar.

Fazia muito, muito tempo que seu time não levantava uma taça que não fosse de estadual, lembra?

Seja sincera: isso fazia alguma diferença?

O Galo não tinha craques, nem esperança. Não possuía agradáveis memórias recentes, nem troféus sem poeira.

Mas ele tinha você, que dali em diante foi a principal responsável por ele ter chegado onde chegou.

De lá pra cá, você não viveu qualquer coisa diferente da rotina que caminhou nos últimos 30, 40 anos. A única diferença passou a ser o final das histórias, que enfim resolveu contrastar com aqueles dolorosos que tu estavas acostumada.

E agora você aparece desse jeito, mimada, debochada, com tanta frescura?

Não achas um abuso, ainda mais para quem enchia a boca pra dizer que "não torço pra títulos, torço pro Galo"?

Sim, aquele restaurante chique é ótimo. Poder frequentá-lo todo fim de semana, algo antes inimaginável, é maravilhoso. Mas o cachorro-quente daquela barraca na esquina não perdeu o sabor. E não é vergonha nenhuma voltar ali de vez em quando.

Esqueça a obrigação e continue acreditando nos milagres. É a sua essência, e jogá-la no lixo de uma forma tão passiva seria um crime.

Você sabe mais do que eu o poder de sua voz. Portanto, deveria estar ciente que nunca deveria usá-la para demolir o que tanto ajudou a construir.

Troque uma vaia por um "Eu acredito". Os resultados já foram comprovados pela ciência.

O Atlético vai mal das pernas. O time não se encontra, a principal contratação está no departamento médico e, com essa bolinha que está jogando, dará adeus à Liberta já na fase de grupos.

Mas pare de ser fresca! Você já viveu coisas bem piores.

Dá pra sair dessa? Dá!

Desde que você deixe de mal-criação, pois ele precisa de você.

Que vá, que cante, que incline ainda mais o Horto.

Que acredite.

O Galo tem mais uma missão de transformar o improvável numa história pra contar.

Ultimamente, isso não tem sido tão difícil.

É com você, Massa. De novo.

@_LeoLealC

Foto: Getty Images