17 agosto 2015

Criminal Case - Ep.: Twitter


Não assisti ao jogo do Corinthians, estava vendo Flu x Figueira. Como não tenho paciência para ver reprises, decidi então analisar a partida da Ressacada pelos comentários das redes sociais.

Após cinco minutos no Twitter, pude concluir que o Timão é o verdadeiro culpado pela alta do dólar, que subiu propositalmente após os rumores de que Luciano receberia proposta de um clube da MLS. 

Entendi também que o Corinthians é o culpado pelo desemprego no país. Percebi que nossa economia está em colapso pelo simples fato do clube não ter aceitado vender o zagueiro Gil para movimentá-la.

Captei o ideal do nazismo, que se resume em perseguir negros, judeus e proteger a Gaviões da Fiel. Descobri que Osama Bin Laden foi frustrado no 11 de setembro, pois sua verdadeira intenção era atingir o Morumbi com a aeronave.

Os esforçados e competentes detetives virtuais me convenceram de que o assassino de John Lennon é corintiano, e que ele praticou a execução após ouvir dizer que o Beattle admirava Pelé.

Pude notar também que, a cada 30 dias, dirigentes do clube se disfarçam de embaixadores, visitam a África e furtam toda a comida possível, o que culmina no problema da fome no continente. 

Além disso, está bem claro que a seca no sertão nordestino se iniciou quando o Corinthians instalou as primeiras banheiras de hidromassagem em seu CT.

No Facebook, há provas concretas de que Andrés Sanchez preferiu se desligar da CBF para fundar o Estado Islâmico e assim ameaçar a Confederação no intuito de seu clube ser favorecido.

Notei o principal culpado pelo 7 a 1. O Corinthians, que foi base da Seleção, que claramente deu preferência a atletas que atuam em nosso território. 

Descobri que fui enganado nesses anos todos e que tudo no futebol é comprado. Pelo Corinthians.

Pois não há mérito algum na liderança para esta equipe tão irregular, sem padrão tático, que vence jogos na sorte. Não importa que a diferença é de quatro pontos, porque os três conquistados graças à arbitragem errada são os verdadeiros responsáveis. Sem os erros contra São Paulo e Avaí, este fraco time estaria no máximo tendo um sonho distante com G4.

Os torcedores do tablet me mostraram que a culpa das maracutaias na câmara de deputados é do Timão. 

Entendi que os problemas no Brasil são justificados quando Corinthians está em campo. E que se eu disser que o impedimento mal-marcado por milímetros aconteceu porque o bandeirinha é humano e não tem acesso ao replay instantâneo, não passo de um alienado pela Globo, que obviamente é corintiana.

Aprendi que o lema do país é não estipular o Corinthians, e sim deixar o Corinthians em aberto, para quando atingirmos o Corinthians, dobrarmos o Corinthians.

Morte ao Corinthians! Principalmente aos que ainda têm a cara de pau de acreditar que erros humanos em lances duvidosos não são propositais!

E que nossos prodígios detetives venham um dia a tomar conta do país.

Se não for pedir muito, do futebol também.

@_LeoLealC

15 agosto 2015

Ele quer mais


E logo após a melhor atuação do Grêmio no século, surge o Galo, imbatível no Mineirão lotado, dependendo só de si para manter a liderança. Quatro dias após um dos maiores títulos da história do verdadeiro troféu à parte que é o Grenal, o Imortal tem pela frente o maior teste para saber o que realmente vai buscar neste Brasileirão.

Duas opções, então, são oferecidas: se dar por satisfeito com o passeio de domingo e a luta pelo G4, se comportando passivamente perante o objetivo do adversário, ou mostrar de vez para Atlético e Corinthians que há mais alguém nessa briga.

Boa parte dos grandes jogos deste Brasileirão, até agora, envolveram o Galo, o que explica o fato dele estar desde o início lá em cima. Mas naquela noite de quinta, a entrega a domicílio de mais um espetáculo chegou acompanhada de uma carta, contendo o seguinte aviso:

"Olha o Grêmio..."

O Atlético se tornou assustador jogando em Minas. Portanto, consequentemente, foi espantoso ver a postura do Tricolor. Frio, equilibrado, nunca esquecendo do ataque. Esperando o Galo, mas sem titubear a propor o jogo.

Perfeito.

O anfitrião que se acostumou a botar medo em casa viu um visitante abusado, que já chegou abrindo a geladeira e botando o pé no sofá. Sua mulher, sempre fiel, entendeu que nem todo mundo tem noção do perigo e o perdoou ao fim da noite pela liberdade dada ao estranho.

Os dois dormiram juntos. Ela de chico, mas eles ainda abraçados.

A maior prova de ambição neste campeonato é bater de frente com o Atlético no Mineirão e não se encolher.

O Grêmio viveu a melhor semana de sua década. E na metade do Brasileirão, acaba de dizer exatamente aonde quer chegar.

Há mais um na briga. E a distância pro líder é de 4 pontos.

Domingo, o Corinthians enfrenta o Avaí. O Galo, a Chapecoense. Os dois jogos em Santa Catarina, onde os dois catarinenses são bem enjoados.

O Tricolor tem o Joinville. Em casa.

"Olha o Grêmio..."

@_LeoLealC

Foto: Pedro Vilela/Getty Images

11 agosto 2015

Feliz ano novo


Um Grenal divide águas, momentos, fases. Divide pais, filhos, o céu, o sangue, até o Papai Noel. Não há céu azul de um lado, nem sangue vermelho do outro.

Um Grenal afunda, coroa, esclarece. Não há qualquer inferno que uma derrota no duelo não torne ainda mais tenebroso, nem um momento que seja tão mágico a ponto de permanecer intacto e frio diante de um triunfo.

Vencer um Grenal auxilia a respiração, imuniza o corpo humano a doenças, clareia os dentes, estica o sorriso, diminui as rugas. Faz bem à saúde.

É a missão cumprida, a justificativa do salário, o recesso das exigências. É materializar e embrulhar o invisível para transformá-lo no mais belo presente.

É o necessário.

Um 5 a 0 num Grenal é o Natal antecipado e estendido. Independente do que valha, cria-se uma história, surgem heróis e a cor do Papai Noel é definida.

Não se pensa no que pode vir a acontecer até o fim do ano. Apenas se dá certeza de que ele valeu a pena. E o 2015 gremista, a partir de 9 de agosto, não tem mais defeito. A imagem de uma temporada se congela em 90 minutos que se eternizam e os três pontos se tornam um mero detalhe.

Nada mais importa, qualquer outro resultado futuro perde o sentido. O Grêmio fez 5 no Inter e se tornou o maior vitorioso do futebol brasileiro em 2015. Ponto.

Vá negar isto a um gremista. Boa sorte!

O Tricolor Gáucho não precisa de mais nada em 2015. Nada!

No máximo, uma vitória no Beira-Rio no returno.

Afinal, o que mais você pede quando num mesmo ano consegue comprar um carro novo, ser promovido na empresa e ainda pegar a chefe gostosa?

Isto é fazer 5 a 0 num Grenal.

Em qualquer outro lugar do Brasil, a legenda "Campeonato a parte" é clichê. Em POA, trata-se de um lema.

Porque Inter e Grêmio estão no mundo para ser gigantes, conquistar títulos e vencer o Grenal. Não necessariamente nesta ordem.

Em 90 minutos, o Imortal explicou.

E deu total sentido à sua existência.

@_LeoLealC

06 agosto 2015

Monumental


Libertadores não admite blazer, lugar marcado, cadeira acolchoada, pipoca, nem plateia. Ela não esbanja fortuna, nem é preparada por um grupo de mordomos com luvas que a servem ao molho inglês. Ela ri da cara de quem vai a Wembley cheirando a fragrância francesa assistir sentado à final da Champions League dizendo estar diante do verdadeiro futebol.

Libertadores não é cinema, e sim um rico cenário a inspirar graciosos roteiros. Ela não admite fãs adoradores de espetáculo, pois é engenhosamente arranjada para apaixonados. que saem de casa na busca de influenciar o que vem a acontecer no relvado,

Libertadores odeia flashes e troca qualquer câmera por um sinalizador.

Festa? Às vezes. Ela admira mesmo uma senhora guerra.

Ela não exibe organização. Ela oferece lágrimas, concedendo uma extensa variação de sabores.

Trata-se de poesia em guerrilha, de caprichos em pinturas borradas, assimétricas. É onde o homem escava a alma até resgatar instintos primitivos. É o simbolismo de uma afeição.

Falo da alma, do coração picotado e distribuído nas glândulas sudoríparas, do pulmão por onde o futebol ainda respira. É a maior explicação sobre o vínculo do ser humano com a bola.

Libertadores é a competição mais humana da Terra.

O River foi dono de uma campanha pífia na fase de grupos e se classificou tendo pouco mais de um terço dos pontos disputados. Uma das classificações mais cafajestes da década, que passou pela inocência do Tigres, que poderia entregar na última rodada e deu uma de bom menino.

Mas ela separa. E enquanto o mexicano é o menino prodígio, o argentino é o cara cascudo.

O Tigres, com um timaço, chegou à final e se deu por satisfeito. Para eles, basta. O River, que caiu de paraquedas no mata-mata, criou seu favoritismo por saber usar a camisa e entender perfeitamente o que estava em jogo.

Os mexicanos empataram em casa na ida e a torcida saiu do estádio fazendo festa, saldada. O que vier, para eles, é lucro.

Enquanto um já havia chegado no objetivo, o outro transformou em obrigação assim que avistou a possibilidade.

O Tigres ia perdendo gols e achando normal, vivendo com naturalidade e passividade a chance de conquistar algo que ele mesmo se recusava a acreditar. Aceitando de véspera um revés para o adversário inferior tecnicamente que se fez favorito na marra.

Ele vivia uma festa e bailava. O River, uma guerra. E lutava.

Libertadores não pede time bom. Pede time grande. E enquanto os dois alcançavam o que queriam, o mais exigente era premiado com a oportunidade de transformar um vexame numa conquista convincente.

E quem vai poder dizer que mereceu mais?

Foram apenas 5 vitórias - uma por W.O. - em 16 partidas. E daí?

A vida é para ser justa. O futebol, para ter emoção, brilho e história pra contar.

A justiça, nele, não está no que se faz por onde, e sim em quando é feito.

A vida, justa, deu ao bom menino a festa antecipada e a satisfação da bela campanha.

O futebol, brilhante, deu ao mais humano time do torneio a taça que tem vida própria.

Quando o bom menino decidiu permitir que o cara cascudo se classificasse, a Libertadores decidiu vestir uma mesma camisa desde as oitavas.

E quando ela quer, surge final feliz.

Mesmo após a morte do protagonista.

@_LeoLealC