29 junho 2014

Enfim, nós


Acompanhamos a convocação, a cobertura na Granja Comary, as entrevistas e todo o período de preparação. Ouvimos Felipão falar, pedimos a saída de fulano, sugerimos mudanças no esquema, etc. Olha só, até nosso goleiro contestamos.

Começou a primeira fase e a Seleção esteve em um grupo relativamente tranquilo, onde o primeiro lugar era esperado, mesmo o time não estando 100%. A expectativa se confirmou, o time não empolgou, a torcida não cantou e nós permanecemos um tanto quanto avulsos à participação brasileira.

Estamos na Copa do Século, e sua primeira parte foi brilhante. Vimos de perto, vivemos tudo isso de forma singular, mas cada um dos três jogos do Brasil era só "mais um".

O pênalti mal marcado, a atuação espírita do goleiro adversário, a retaguarda do Hulk e o hino cantado à capela, que não deixa de ser espetacular, chamaram mais a atenção. Se isso ocorreu, foi porque tratamos nossa equipe com uma certa indiferença.

Curtir a Copa é fantástico, lindo. Mas esquecemos que também vive-se o Brasil no torneio.

Sim, faltava algo.

Graças a 120 minutos, uma atuação pífia e um simpático poste, não falta mais.

Graças a 10 pênaltis, uma redenção e uma outra adorável trave, uma vitória no futebol voltou a ser uma vitória do Brasil.

Não, isso não quer dizer que ficamos satisfeitos com o país de repente. Mas garante que foi o dia em que o futebol e a Seleção Brasileira nos deram alegria o suficiente para esquecermos tudo de ruim por um momento.

Foi o dia que muita gente entendeu como alguém pode chorar por causa de " 22 sujeitos correndo atrás de uma bola".

Foi o dia que precisamos de um santo com mãos cobertas de látex para nos reumanizar e vermos o time canarinho com o coração, não como meros analisadores que pareciam estar vendo tudo de fora.

Foi o dia que o Brasil parou. Não pela Copa, mas pela Seleção nela.

Fizemos uma partida tão fraca que fomos obrigados a depender do poder da camisa mais pesada do futebol mundial.

Só consigo acreditar nisso. Nenhuma explicação física para aquela bola subir e encontrar o travessão no último minuto vai me convencer.

E se você não sentiu absolutamente nada naquele lance, recomendo-lhe um psicólogo.

Ou, simplesmente, parabenizo seu cardiologista.

Se a estreia da Seleção foi em São Paulo, o primeiro jogo da NOSSA Seleção foi em Minas.

E agora, depois de sofrermos de verdade com quase 3 horas de tortura e apreensão, podemos enfim gritar, sem clichê, que "estamos com vocês!".

Por nós, para com a Seleção Brasileira, a Copa começou em 28 de junho, quando o míope juiz inglês autorizou o início do certame perante os chilenos. 

Mesmo sendo na nossa casa, fizemos de tudo para logo irmos embora, sem sequer desfrutar de qualquer pedaço que produzimos da festa. 

Mas que culpa temos se nos deram mais uma chance de ficar?

A festa, nós preparamos. A casa, é nossa.

Seria esse, então, o motivo de não estarem fazendo questão de nos expulsar?

Não sei exatamente. Mas se não tratarem do assunto depressa, há o grande risco da Taça ser nosso novo objeto de decoração.

É logo ali.

E faltam 3.

@_LeoLealC 

27 junho 2014

Minha iluminada demência


Desde o dia 12 de junho, tenho acordado, olhado pro céu e agradecido. Por mais um dia de Copa, por ser um louco apaixonado pelo futebol, por não confundi-lo com política, e nem fingir ignorá-lo apenas na intenção de mostrar uma revolta que me faça parecer um intelectual qualquer.

Imagino como deve ser enfadonho se forçar a não poder estar na frente da TV, nem comprar um ingresso, apenas para seguir uma doutrina recém-criada. Principalmente pensar que, se curtir os jogos, estará sendo a favor do Estado.

Penso como deve ser sacal não poder recusar um rodízio de pizza, quando na verdade, a vontade é ver Itália x Inglaterra. É proibido. Fazendo isso, estará indo contra tudo que pregou antes do evento.

Reflito sobre quão angustiante parece ser admirar até um inesperado Gana x Estados Unidos, sendo que depois só se pode comentar sobre algum problema visto na cobertura do estádio, ou um bêbado que deu um tapa em alguém.

Pelo menos 80% dos jogos que tivemos até agora fizeram valer a pena sentar e assistir os 90 minutos. Então imagina viver toda a emoção de algo só visto de 4 em 4 anos e depois não poder se expressar positivamente sobre o que viu?

Pois bem. Esta é a forma certa de se lidar com o que está acontecendo, dizem. Se você age ao contrário e tem orgulho de tudo isso estar acontecendo em nossa casa, é um "alienado".

Fui ao dicionário pesquisar o exato significado desta palavra. Me deparei com isso: "Que perdeu a razão; demente".

Tá. Mas desde quando faço questão de ter razão quando o assunto é futebol?

Aceito perdê-la. Aceito "me alienar".

Não estou nada satisfeito com o Governo, muito menos votarei em sua reeleição em outubro. Também não sou maluco em aprovar os superfaturamentos dos estádios.

Sou apenas mais um "alienado". Pois nunca serei contra a Copa, contra o futebol e nem os considerarei culpados.

Estou aproveitando da melhor forma uma Copa do Mundo que vejo tão de perto. Essa chance, creio que nunca mais terei.

Ouço o início de "Oh eh ah" e já me arrepio. O jogo termina e eu penso: "Valeu a pena. Novamente".

Triste mesmo é isso durar apenas 31 dias.

Havia quem garantisse que nada disso aconteceria. Para estes, trago uma notícia desagradável:

Está acontecendo. E está sendo incrível.

Se você não gosta de futebol, sinto pena.

Se você gosta, mas se coagiu a parecer alheio aos espetáculos que estamos vendo em nossos gramados, desejo melhoras. Ainda acredito que sua doença possa ter cura.

A minha é outra. Mas dessa, não quero me livrar.

Perdi a razão, sou um demente. Um "alienado".

Graças a Deus.

Porque por isso, estou vivendo a melhor Copa da minha vida.

@_LeoLealC

26 junho 2014

Santo Ureña!


O Uruguai perdia para a Costa Rica por 2 x 1 no Castelão. No desespero, foi pro tudo-ou-nada em busca do empate para amenizar o vexame. Até que no fim do jogo, Campbell lançou e Marco Ureña tocou na saída de Muslera para confirmar a primeira grande zebra da Copa e, a princípio, afundar a Celeste.

Sim, afundou. Tanto que matou, fazendo esse grande favor aos uruguaios.

Porque quando ele morre, seu fantasma levanta. Este sim é perigoso. Lembra do que aconteceu contra a Inglaterra, né?

Não? Então veja aqui.

Aí ele foi pra última rodada empatado em quase tudo com a Itália, mas a diferença de um gol no saldo lhe trouxe a desvantagem e fez a Azurra jogar pelo empate.

Perfeito!

Sem o gol de Ureña. o empate já serviria, e não dá para confiar nesse Uruguai quando ele tem que jogar com a cabeça, tendo o placar nas mãos. Se eles precisarem segurar um resultado, correm o grande risco de deixá-lo passar.

Mas precisando buscá-lo, são outros. E para consegui-lo, eles fazem qualquer coisa, até deixar o futebol em  segundo plano.

Se Muslera soubesse o bem que aquele gol costarriquenho lhes faria, nem teria saído em direção à bola. Se precisasse, ele mesmo a jogaria pra dentro.

Pois enfrentar a Itália precisando correr atrás do prejuízo até pode parecer furada. Mas para o Uruguai, foi a solução.

Na bola, fora o talento individual do ataque e a zaga consistente, é um time no máximo razoável. Mas quando a esquece, impõe respeito.

E se eles querem, é difícil impedi-los de ter.

Se o pênalti não é marcado, a pressão no juiz só acaba quando o adversário é expulso numa entrada passível só de amarelo. Se está difícil descolar do zagueiro, uma mordida no ombro pode resolver o problema. Se o herói pulou muito e perdeu o tempo da bola, ela bate nas costas e entra.

No Ceará, eles morreram. Em São Paulo, o fantasma levantou. Em Natal, assombrou.

Com Suárez e Godín, eles chegaram.
Na raça, na pressão, no fantasma.

A Colômbia está melhor, na bola. Mas é bom que ela já tenha noção do problemão que terá pela frente.

Porque para o Uruguai, vale usar qualquer coisa que mostre que ele não está ali pra brincadeira.

Até o dente.

@_LeoLealC

20 junho 2014

Enfim, o Uruguai


"É Copa, e é no Brasil. Cuidado com o Uruguai!".

"Nunca menospreze o poder da Camisa Celeste!".

O Uruguai se tornou o maior clichê de Copas do Mundo. Não a vence desde quando Javier Zanetti, Giggs e Mondragón ainda não haviam se profissionalizado na bocha, mas sempre nos deixa com um pé atrás quando pensamos em descartá-lo.

Não é à toa.

Nunca esquecemos essas frases quando nos referimos aos tais. Ainda mais quando a final do torneio será no mesmo chão onde eles foram agraciados com a maior travessura espírita da história do futebol.

Dali em diante, de uma seleção forte e tradicional, se transformaram num fantasma. O mesmo que, entre inúmeras assombrações, foi o 12º elemento em 50 e levantou descaradamente a soteropolitana mão de Suárez em 2010.

Não existe assombração em carne e osso. Portanto, para que haja um fantasma, é necessário morrer.

Dentro de terras cearenses, eles morreram. Uma zebra os matou.

Assim, esquecemos as possíveis consequências e os colocamos fora do baralho.

Mas se o Uruguai em corpo cai, nasce um novo, o verdadeiro, o espírito que já se sente em casa. Ele lembra bem de quando rondou por aqui.

No jogo onde a eliminação seria definida, surge uma dose de ectoplasma introduzida num joelho recém-operado parar curar seu dono, levando-o à salvação e à aparição de um vulto celeste.

Então, tivemos a estreia uruguaia na Copa.

Se o Uruguai não assusta, sua forma kardecista causa um certo terror. Desconfio até que o Sol que estampa aquela bandeira seja o que ilumina o Além, e não a Terra.

Deixamos a Celeste de lado e a consideramos morta.

Acertamos.

O problema é o que sua morte pode causar.

@_LeoLealC

19 junho 2014

Pânico!


Antes de tudo, quero deixar aqui um abraço ao amigo aí da foto acima. Também quero parabenizá-lo pela sua escolha e seu desempenho decisivo nesses dois jogos. Boa, garoto!

Pois bem. Vamos lá.

Depois de vibrar e dar tantas risadas com o que vi acontecendo hoje no Maracanã, parei pra raciocinar e fiquei um tanto receoso.

Olha, confesso que exagerei na empolgação com a Seleção Brasileira. Fui iludido ano passado com aquilo que pensei ser um show na Copa das Confederações e a exaltei muito.

Achei que tinha sido uma atuação memorável contra essa Argentina Ibérica e fiquei confiante demais na nossa equipe.

Pensei: "Vencemos a campeã do mundo". Só me esqueci que ela foi vencedora da pior Copa que assisti, perdendo pra Suíça e vencendo as quatro partidas do mata-mata por 1 x 0, sendo duas delas com erros de arbitragem.

Cheguei a entrar na onda de achar que eles eram realmente isso tudo. Sim, há jogadores bem diferenciados ali, mas o grande trunfo dos caras era a intimidação prévia que sentiam os adversários.

Não, a culpa disso não era a camisa. Não mesmo! Eles não têm.

Bastava entrarem em campo para os rivais se encolherem. Muito mais pelo o que ouviam falar deles do que, de fato, viam em campo.

E no dia que o Brasil for intimidado por alguém no futebol, corto meu cabelo e faço o penteado do Fábio Ferreira.

Desprezamos esse futebol deles de toquinho pra lá e pra cá, vencemos e levamos aquele caneco. Parecia lindo, um massacre.

Na hora, achei extraordinário, maravilhoso. Mas hoje, vejo é que foi pouco, bem aquém do devemos fazer para sermos campeões do mundo.

Me enganei, e agora estou temendo pelo nosso futuro na Copa. Estamos deixando bastante a desejar.

Vencer a Croácia muito por causa de um erro do juiz e depois empatar com o México não é nada bom.

Porém, mais preocupante ainda é precisar que David Luiz salve em cima da linha e Sergio Ramos perca um pênalti para fazermos só 3x0 nesses meros coadjuvantes.

Estou com medo.

Abre o olho, Brasil!

@_LeoLealC

18 junho 2014

Hoje não


Tudo bem, não estivemos em um dia muito bom. Poderia ser melhor, muito melhor, e o jogo contra Camarões servir apenas para o Felipão fazer testes.

Mas hoje, mesmo se tivéssemos uma atuação digna daquela que fizemos os argentinos ibéricos de vermelho enfiarem o tic-taca em suas guelas no Maraca, não adiantaria.

O jogo podia ter 5 tempos de 75 minutos, o México ter 2 expulsos, Oscar ser o de semana passada, Fred se mexer pra algum lugar, Ronaldo descer da cabine, Dilma "comprar a Copa", Falcão no lugar do Paulinho, e o placar continuaria no zero.

Incompetência? Sim, existiu, mas para criar mais chances. Porque quando elas surgiram, houve algo dentro da pequena área mexicana que escolheu esta tarde para nos atrapalhar. 

Não tinha jeito. Hoje a bola não iria entrar. 

Ochoa é um cara que desde 2007 ponho no top 10 de goleiros no mundo. Nunca entendi como o rapaz nunca foi parar num grande europeu. Não sei se foi injustiçado ou se apenas recusou, mas seria titular, no mínimo, em Barça, United, Liverpool, Arsenal e Milan. Considerando que Diego López era o titular do Real Madrid na temporada, acrescento o Real à lista.

É o craque do México e o que mais pode fazer a equipe chegar a uma zebra. Hoje, levou o time nas costas e ainda se sentiu em casa quando ouviu o falsificado grito de "Puto".

Gostei do resultado? Não, claro que não. Mas uma coisa que adorei foi a hora que ele veio. 

Há tempo para corrigir o que está errado, Paulinho ser sacado ou ressurgir, e nós assumirmos algo que não aceitamos: o Hulk faz, sim, muita falta nesse time.

Não vamos ganhar ninguém com o pé nas costas. E um futebol medíocre não será suficiente.

Apesar disso, a Seleção não foi tão mal quanto pareceu. Fizemos o que seria o suficiente, caso este indivíduo asteca não estivesse dopado espiritualmente.

Para quem saiu do Castelão dizendo que era melhor ter ido ver o filme do Pelé, digo que hoje até o Rei teria problemas com o cara.

Entre o milagre contra Neymar e a sorte contra nosso capitão, o dia foi de Ochoa.

Nossa missão era razoável. A dele, dificílima.

Mas ele cumpriu.

E tornou a nossa impossível.

@_LeoLealC

16 junho 2014

Melhor assim


Eu sinceramente não queria goleada na estreia. Era só o primeiro jogo de um grupo que parece ser bem tranquila a classificação.

É melhor evitar um oba-oba que todo o período de preparação sugeriu. Golear a Croácia seria algo normal, mas traria um sentimento que não precisamos ter agora.

Fizemos o suficiente, o que basta. Sem atuações memoráveis, salva exceção da recuperação do Oscar, aí sim, bastante necessária.

O gol sofrido no início? Perfeito. Não tínhamos a visão da Seleção saindo atrás no marcador. Agora temos, o que nos traz uma certa segurança. Sem contar que criou o calo necessário pra nos impedir de subir no salto.

Tivemos a sorte de pegar um grupo fácil. Sendo assim, melhor usar esta primeira fase como teste.

Torço para que ou México ou Camarões forcem os ataques pelo lado esquerdo. Não me parece confiável, mas ainda precisamos ver o Dani Alves tendo que segurar a onda lá atrás.

O Paulinho está mal, e por isso espero pelo menos 45 minutos de chances pra Fernandinho e Ramires.

Felipão precisa preparar o time para todas as possibilidades de adversário no mata-mata. Fora isso, basta o simples em campo.

Quero a liderança no grupo, com vitórias seguras pra dar confiança. O show, deixa pra depois.

A estreia foi perfeita, ao contrário do que seria um 5 x 0 com 4 gols do Neymar, sendo um de bicicleta.

Seremos donos do mundo, mas ainda não somos. Então, por enquanto, deixa o pezinho no chão.

Porque um 2 x 0 na Espanha vai ser muito mais brilhante que um 5 x 0 na Croácia seria.

Amanhã tem mais.

Vai, Brasil!

#Faltam6

@_LeoLealC

12 junho 2014

Caros guerreiros,


Vocês não fraudaram licitações, superfaturaram estádios ou desvalorizaram o salário dos professores.

Vocês não deixaram hospitais nem escolas abandonados.

Vocês pagavam ou ainda pagam impostos absurdos aqui, assim como todos nós.

Vocês não têm culpa da situação do país, nem do Governo. Sim, ajudaram a elegê-los, assim como todos nós.

Vocês irão representar uma nação inteira, e não ajudar a camuflar um caos no Estado.

A maioria está com vocês. Esqueçam os pseudo-barulhentos de Internet, estes tem relevância minúscula.

Sonhamos em ver uma Copa aqui. Não do jeito que sua organização e transparência foram conduzidas, mas agora que já está tudo "pronto", vamos viver esta monção e esquecer da vida por um mês.

E, mais do que tudo, sonhamos em ver vocês levantarem a Taça aqui, na nossa frente.

Então, realizem-no! Mesmo que não queiramos acordar ainda.

A Seleção é nosso exército. Então carreguem nossa farda e honrem-na, mesmo que terminem com ela suja de sangue e suor.

Porque durante esses 31 dias, vocês não são nossos soldados.

São nossos herois.

Pra cima deles, Brasil. Eu quero a sexta estrela!

@_LeoLealC

09 junho 2014

O voo mais alto


Num domingo de um árduo inverno em Porto Alegre, em 2004, ele foi chamado pelo técnico e foi para o aquecimento. Era mais um Grenal, apesar de este nunca admitir ser acompanhado por artigo indefinido.

Ele entrou em campo. Alguns minutos depois, no alto, usou o titânio pregado em sua testa para transformar o clássico no Grenal do gol 1000.

No alto, lá em cima. Se sentia melhor ali. "Você se sente um pássaro", dizia.

Fernandão era tão frio, tão calmo, que foi até estranha sua pressa em fazer história com a camisa colorada. Ele nasceu de verde, mas se casou de vermelho, sem nem tempo para noivar. Já naquele domingo, assinou o papel, ali mesmo.

A festa, ele deixou pra dois anos depois. Na mesma casa, com os mesmos convidados.

A palavra ídolo, no futebol, tem significados diferentes. Rogério Ceni, no São Paulo, é um tipo. Marcelinho, no Corinthians, outro. Fernandão criou o seu.

Com a bola no pé, não resolvia sozinho, mas fazia o time inteiro jogar em seu limite. Não havia como alguém, perto dele, tirar o pé ou não ter vontade de vencer.

Em dia de jogo no Beira-Rio, sempre acompanhado de um "Hoje tem Colorado!", ouvia-se um "Vamos ver o Fernandão!".

Para isso, até os peixes do Rio Guaíba se vestiam de vermelho.

O Inter de D'Alessandro, Nilmar, Sóbis ou Damião metia medo. O Inter de Fernandão, respeito.

Uma pena que seu poder de liderança e sua praticidade de tirar o máximo de cada um não tenha conseguido fazer seus 4 companheiros levantarem aquele inglório helicóptero.

A vida é injusta com muitos. A morte, um atestado de confirmação.

Ele se foi. Voando, no alto, fazendo o que gosta.

Agora, traça seu voo mais alto. Para o céu, o único azul que lhe cai bem.

Ele se vestiu de branco e atravessou o mundo para pintá-lo de vermelho.

Ele atravessou um momento péssimo que vivia o Colorado e o levou para onde nunca tinha chegado.

Ele atravessou uma cruenta rivalidade e fez aparecer camisas tricolores no Beira-Rio, tristes pela sua ida.

O Gigante da Beira-Rio chora, e passará a Copa em depressão. O torcedor colorado entra em prantos e veste sua camisa 9 até se conformar que o dono dela está agora lá no alto, bem no alto, com a toca do Saci, feliz pelo reconhecimento do que ele foi pra essa gente.

E fique tranquilo, pois se é lá em cima, ele está bem. Sempre foi assim, em tudo.

Fernando Lúcio da Costa surgiu em 18 de março de 1978 e se foi cruelmente.

Já Fernandão, nasceu no dia 10 de julho de 2004.

Este, fica pra sempre.

No coração do futebol, na alma do Colorado.

Vai com Deus, Fernandão.

@_LeoLealC