19 dezembro 2014

Merecimento (Continuação)


Ele não foi o problema do Corinthians em 2013. O que atrapalhou o Timão, ali, foi a falta de tesão de um time que havia ganhado tudo em 4 anos. Uma ressaca normal, a qual toda equipe vencedora se submete.

E o maior erro do clube foi achar que ali era o fim da era Tite. Assim, desperdiçou o ano de 2014, onde a continuidade do trabalho do rapaz, aliada a volta da vontade de vencer, seria muito mais benéfica do que a aposta no microfonista Mano Menezes.

O Corinthians levou Libertadores e Mundial tendo como principal responsável o seu treinador, em algo poucas vezes visto aqui. Foi também o primeiro caso de um futebol feio que dava gosto de ver.

Tite é amado no Parque São Jorge, numa relação rara entre treinador e clube. Talvez tenha sido até mais importante que Ronaldo naqueles 4 fantásticos anos.

Em sua melhor entrevista, ao falar da reta final do Brasileirão que seu time estava prestes a conquistar, ele soletrou: "M-e-r-e-c-i-m-e-n-t-o".

E por tudo que fez, o Corinthians tem a obrigação de sempre procurá-lo como primeira opção pra técnico enquanto ele exercer a profissão.

Por agradecimento. Por merecimento.

Tite é um treinador sensacional, acabou com a marra do maior time de aluguel do planeta e deu o mundo ao Timão. Por ser brasileiro, é menos reconhecido do que deveria. Pois se ganhasse o horroroso Campeonato Francês com o quinzilhonário Paris Saldo de Gols, teria a alcunha de gênio, mesmo que não precisasse mover uma palha.

Sempre quis vê-lo na Seleção e ainda não pude.

Azar da Seleção.

Sorte do Corinthians, que o abraça de volta.

Em 2013, após sua demissão, disseram que seu ciclo havia chegado ao final.

Por favor, disserte sobre estes sujeitos, Tite:

"Fala muito! Fala muito!".

Obrigado.

Se houve algum ciclo que se encerrou naquele ano, foi o daquele Corinthians, "cansado" de ganhar taças.

Porque o de Tite, no Timão, se não é vitalício, está longe, bem longe do fim.

@_LeoLealC

Foto: Edu Andrade

12 dezembro 2014

Já que ele quer...


Como torcedor do Flamengo e assíduo fã do futebol que Léo Moura já mostrou um dia, acho que está na hora dele parar. Ele já mostrou não ter mais condições físicas para aguentar uma temporada inteira e o momento atual, em que ele ainda não chega a comprometer o time, seria propício a uma despedida "em alta".

Prefiro que pendure a chuteira agora. como ídolo incontestável, sem correr o risco de se queimar. No máximo, que jogue o Carioca e se despeça.

Porém, ele quer continuar. E por isso, creio que é um dever da diretoria mantê-lo por mais uma temporada.

Léo quer encerrar a carreira no Fla e não merece que sua história no clube chegue ao fim com uma dispensa. Seria uma enorme falta de consideração ao serviço já prestado pelo rapaz.

O Leonardo Moura, andarilho, coadjuvante de times grandes, encontrou há 9 anos uma camisa para chamar de sua e se tornou o Léo Moura do Flamengo.

Depois de tantos anos, ele só quer mais um.

E a maior forma de agradecimento do Rubro-Negro por tudo que ele fez pelo clube é fazer a sua vontade.

Analisando de forma sensata, confesso que ainda não sei se a permanência de Léo é boa ou não para o Flamengo.

Mas hoje escrevo como torcedor. E como um dos milhões de agradecidos pelas alegrias que Léo Moura já proporcionou vestindo essa camisa, acho que ele merecia este "presente".

Renova com ele, Mengão!

Ele ainda merece.

@_LeoLealC

Foto: Alexandre Vidal

10 dezembro 2014

Fluminense Football Club. E só


Em 2007, o zagueiro Roger dominou dentro da área e iniciou um período mágico para o Fluminense.
Dali em diante, vieram dois Brasileiros, uns 5 ou 6 anos brigando lá em cima e participações constantes na Libertadores, sendo que uma delas não foi parar nas Laranjeiras por mais um dia de mau humor dos deuses do merecimento.

Nesses anos, até uma permanência na Série A levou merecidamente ares de título.

Calma... Estou falando de 2009!

O Flu conseguiu, há 7 anos, uma estabilidade de competitividade que alguns já duvidavam no fim da década de 90 que alcançaria novamente.

Nesse tempo, o Tricolor foi, de longe, o rival que mais temi.

E então, entendemos que estávamos diante de uma das mais bem-sucedidas parcerias da história do esporte brasileiro.

A bicicleta do Fluminense estava cambaleando. Então duas rodinhas chegaram para estabilizá-la e a tornaram uma das mais potentes do país.

Mas agora elas quebraram e o Flu terá que relembrar como se pedala sem o auxílio.

Por isso, prevejo dois ou três anos complicados para o clube.

Há quem diga que o Fluminense acabou. Claro que não! Mas hoje encerra-se uma sequência que o torcedor não queria se despedir.

Todo ciclo chega ao fim. E o final só é percebido quando cria-se uma expectativa não muito boa do que vem pela frente, após tanto tempo acostumado com a esperança de mais um ano brilhante.

O Flu inicia uma nova caminhada e agradece à Unimed por todos os frutos que a parceria lhe rendeu.

O torcedor guarda as imagens das taças levantadas e os golaços de Fred. E todas elas acompanhadas com o nome da empresa na camisa.

Acabou. Mas enquanto durou, foi espetacular.

Valeu a pena.

Para os dois.

@_LeoLealC

Foto: Ricardo Ayres/PhotoCamera

08 dezembro 2014

Sem graça. Sem vergonha


Eis que surge dos céus a chance de disputar a Série A em 2015.

5 pontos. Só 5 pontos, em seis jogos, eram necessários para não ter risco algum. E o Palmeiras comete a inépcia de levar apenas 1, de 18 possíveis.

A Arena Palestra mal inaugurou e já foi palco do grito de "time sem vergonha" mais justo da história do futebol.

Porque se o time não tem vergonha na cara, os torcedores tem. E eles sabem que o Porco mais uma vez foi rebaixado e deu a sorte da tragédia ser apenas moral dessa vez.

Valdívia ser o salvador da equipe é uma realidade. Depender totalmente de um indivíduo com a coxa de papel para conseguir uma pontuação tão humilde é um escárnio.

Ouvir a verdade vindo da boca dele é lastimável.

Escapar pela incompetência do adversário direto, que não fez sua parte, é um fato. Depender de dois times de férias e uma rara demonstração de hombridade de um rival local para não rolar pela ribanceira, na segunda vez em 3 anos, é inadmissível.

Pouca vergonha, pouco futebol, poucas palavras, muita sorte.

2014 não foi medíocre para o Verdão. Quem dera, pra ele, que fosse.

Dos 100 anos de Palestra, este entra para a lista dos mais amargurantes, mesmo que ele tenha "escapado".

Por detalhes, o Centenário não trouxe um triênio.

Levante as mãos pro céu e não reclame de azar ou injustiça pelos próximos 5, 6 anos, Porco.

O cafajeste Palmeiras fica, tendo a permanência mais ridícula já conseguida em campo por um grande.

Às vezes, ela dói tanto quanto a queda.

Foi o caso.

@_LeoLealC

Foto: Marcos Ribolli

06 dezembro 2014

Aconteceu em 2009: Traidores tricolores salvos por um Magro de Aço


Era dia 06 de dezembro, o palco era o Maracanã. Flamengo e Grêmio se enfrentavam no jogo que poderia dar o título brasileiro ao rubro negro, tirando-o da fila de 17 anos.        

O Grêmio não tinha nada a buscar no Campeonato que não fosse entregar o jogo e tirar o título do maior rival Inter. O Tricolor Gaúcho estava proibido pela sua torcida de vencer o jogo. Seria uma das maiores tragédias do Imortal ver um certo povo de vermelho comemorar o tetra à beira do Rio Guaíba por sua causa.              

Para o povo tricolor, era um dos jogos mais importantes do ano, mesmo que a equipe estivesse apenas cumprindo tabela naquela última rodada. Sem ter noção disso, o técnico tomou uma das decisões mais equivocadas de sua vida e escalou um time de garotos.                  

Ele não parou pra pensar que o time principal, já de "férias", faria a vontade da torcida, não colocaria o pé em nenhuma dividida e daria o título ao Flamengo sem sustos. Ele não percebeu que um time de meninos começando a vida no futebol ia correr e dar o máximo nos 90 minutos pra mostrar serviço e buscar vagas no time para o ano seguinte.

Ele não sabia o risco que estava correndo.        

No meio de 84 mil rubro-negros naquele Maraca, via-se uns 4 ou 5 gremistas. Entre estes estava Aribaldo, gaudério nato, do chimarrão de cada dia. O sujeito era gremista até o fígado, jurava ter sangue azul e que o Grêmio estava acima de tudo, até do Grenal.

Ele jurava estar torcendo pela vitória de seu time, mesmo sabendo das consequências. Tentava se convencer disso.

Mas bastou o careca do apito dar início à peleja e os inocentes tricolores começarem a dar suas vidas em campo para que o cidadão sentisse algo diferente.

Por que o alívio com uma defesa do Bruno? Cadê a empolgação no escanteio do seu time?

Gol, Roberson. Onde está o soco que Aribaldo sempre aplicava ao ar por alegria com um tento de seu Grêmio?

Ele lamentou. E vendo a imperdoável vontade dos meninos contra um apático Flamengo, decidiu conformar-se, sentar-se na cadeira e escrever algo em tom de rancor e decepção para sua coluna diária do jornal de sua cidade:

" Caros meninos, 

  Oh, filhos da imortalidade, vocês já estão grandes demais para que precisemos explicar que não exigimos que vocês joguem bola, deem show e nos torne plateia de um teatro.

  Nosso único pedido é que honrem e representem o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. E dentro disso, consta algo obrigatório: nunca, NUNCA exalte ou favoreça os vermelhos. 

  Se vocês querem mostrar serviço ao comandante, que fizessem-no nos treinos, em outros jogos, onde e quando quiserem, mas não hoje. 

  Eu também detesto o Flamengo, às vezes até esqueço a parte preta da camisa deles. Tenho 1982 engasgado até hoje, mesmo com a vingança de 97. Mas dessa vez, era preciso que colaborássemos com os malditos rubro-negros.

  E vocês sabiam disso, sim.

  Vocês, jovem traidores, fizeram de tudo para que fôssemos cercados pela alegria da metade imunda do estado. Com isso, contribuíram para uma das maiores tragédias de nossa história imortal.

  Que vocês sejam despachados e proibidos de pisar novamente no solo fértil do Olímpico Monumental. E que de forma alguma voltem a vestir o maior pano tricolor deste planeta em suas vidas.

 Vocês não merecem.

 Nós somos Grêmio, vocês são apenas jogadores. E não entenderam do que somos parte.


 Traidores! Eu nunca os perdoarei."

Mas para o alívio de Aribaldo, ele estava precipitado e nunca precisou publicar este artigo. Mesmo com a mal-criação dos meninos, um sortudo Flamengo chegou à vitória, ao título e o fez sair dali aliviado, pois seu time havia feito sua parte, mesmo com uma baita teimosia.

Marcelo Grohe, Douglas Costa e Mário Fernandes - três que já chegaram à Seleção Brasileira - devem agradecer diariamente ao presente dos deuses do futebol pelo sucesso na carreira sem que qualquer fardo fosse carregado pra sempre.

Este presente veio do Nordeste, mais precisamente da terra de Pádim Ciço para salvar a pele, a carreira e até a vida de jovens gaúchos.

Hoje, os gremistas não perdoam a traição de um certo Ronaldo.

Ronaldo... Que Ronaldo?

Para Aribaldo, milhões de tricolores gaúchos e 11 inconsequentes traidores, desde aquele dia só há um Ronaldo.

Cujo sobrenome é Angelim.

O Magro de aço.

Que, há 7 anos, se tornou imortal. Dos dois lados

@_LeoLealC

02 dezembro 2014

Vazio


A mãe estava pronta para levar o filho à escola, até perceber que o garoto estava tossindo muito e resolver levá-lo ao médico. Seria um dia até feliz para a criança, que pensou "Oba, hoje eu mato aula!".

Ao chegar, foi informada de que se tratava de uma simples gripe que o menino havia pegado no fim de semana, quando ficou na casa do pai. Foi constatada a esperada virose, que em dois dias passaria. 

Mas enquanto o doutor poluía a receita do remédio com seus garranchos, o menor começou a ter uma sequência de tosses muito fortes, com sons mais graves e uma leve mudança no tom da pele.

O médico achou estranho e resolver examinar o moleque de forma mais detalhada. Ao focar seu aparelho na garganta, percebeu várias bolinhas amarelas na região perto da corda vocal e logo concluiu que, além da virose passageira, o rapaz havia contraído uma infecção que, se não tratada, causaria-o consequências graves.

Os dois voltaram pra casa não muito preocupados, pois perceberam que bastava ele tomar os remédios que estaria curado. Mas quando passaram na farmácia, viram o preço dos medicamentos e se assustaram. 

Assim, a mãe foi obrigada a engolir o orgulho e ligar para o pai do menino, de quem havia se divorciado há 2 meses. Ele tinha bom emprego e melhores condições financeiras que a humilde moça, que recebia um salário modesto e se virava do jeito que podia para cuidar sozinha da casa.

Folgado, marrento e soberbo, o ex-marido foi bem irônico na ligação, aproveitou para humilhá-la e culpá-la pela separação, mas aceitou e disse que custearia os remédios.

Porém, apesar do bom salário que recebia, o homem vivia se endividando devido ao seu vício em bebidas, cigarros e bingos. Não cuidava nem de si mesmo e não conseguia assumir a responsabilidade de ter um filho.

Na verdade ele nem gostava da criança. Levava-o para sua casa em alguns fins de semana apenas por obrigação moral e jogar na cara da ex-esposa o fato dele poder dar um presente mais caro ao garoto.

Então, meses foram se passando e em muitos deles o pai viciado não comprava os remédios do filho. A infecção ia piorando e o menino se sentia cada vez mais incomodado com as dores que isso lhe causava. 

E o doutor havia dito: "Se não for tratada, esta infecção se tornará algo muito grave".

O problema atrapalhou o menino em tudo na vida. Suas notas pioraram e ele até repetiu de série na escola. Para piorar, a mãe havia arrumado um namorado que não ia com a cara do moleque e fazia a cabeça da mulher contra o menino. A vida do garoto se tornava um inferno.

Sem saber em quem se apoiar, o rapaz buscava nos avós alguma demonstração de afeto e consideração. E só ali conseguia, de forma breve. 

Um dia, sua mãe foi lhe acordar para levá-lo a escola e percebeu que a criança não levantava. Ele estava desmaiado.

Rapidamente, foi levado ao hospital e reanimado com um soro. Ao deitar na cama, ouviu um triste diagnóstico do médico: a infecção havia tomado conta de todo o corpo e as chances do menino se salvar eram bem remotas. 

Ali ele ficou, dia após dia internado, tentando reverter algo que já era praticamente irreversível.

Seu pai havia deixado com que ele chegasse nesse amargurador estado. Sua mãe, havia praticamente o abandonado. Seus avós, os que realmente o amavam, sofriam. 

O pior estava pra acontecer, e não sobravam mais oportunidades de consertar o descaso pelo qual o garoto foi tratado.

Até que o dia chegou e sua hora também. Como anunciado por um bom tempo, ele foi embora, num dolorido sentimento de indiferença, quando já não era mais surpresa para ninguém.

O pai não quis nem dar de cara com o resto da família e se mudou para longe, pois sabia que era o principal culpado. 

Covardemente, a mãe atrelou a culpa apenas ao ex-marido, esquecendo seu abandono e tentando se sair como vítima da história.

Assim, os pobres avós foram obrigados a aceitar a situação de ver seu amado neto ter um fim tão melancólico.

Breno de Freitas Rodrigues foi mal-cuidado, mal-acompanhado e morreu da forma menos desejada: sem ser notado.

Para sua infelicidade, Breno foi um ser-humano, não um clube de futebol, patrimônio de um país.

Pois para esses, existe a chance de renascer.

@_LeoLealC