06 maio 2016

Filosofia


Há 3 anos, o perfil do atleticano tem mudado radicalmente.

Não falo da essência, esta eterna e imutável, que se mantém independente do resultado, do momento, do ciclo menstrual ou da fase lunar. Refiro-me às expectativas, ao que se espera do time. Neste período, há motivos além da paixão para se crer.

Depois de um longo tempo no qual a única forma de ter fé era baseada na camisa e nas surpresas que o futebol aponta, enfim existe uma esperança racional. Não é mais loucura, não é algo absurdo, o Galo agora é cotado.

E isso torna o atleticano exigente.

Eu defendo a tese de que eles eram mais tranquilos antes de ganharem a Libertadores. É quase uma lei da vida. Quanto menos você tem, menor é o tamanho das conquistas que te satisfazem. Um trabalhador que rala a semana inteira e ganha pouco está muito mais feliz quando numa mesa de bar, numa sexta-feira, bebe com seus amigos, enquanto um engenheiro rico e bem sucedido não consegue dormir na mesma noite, quando tem um projeto reprovado na empresa.

Se existe um momento no qual a ganância deixa de ser pecado, é por ele que o atleticano está passando.

Quanto mais se tem, mais se quer.

Agora eles têm.

Agora, mais do que nunca, eles querem. Cada vez mais.

Não, não basta mostrar superioridade. Ela tem que ser disfarçada. No sofrimento, no detalhe, no pênalti, na espera até o último apito para se ter alívio. E na enganação que eles fazem a si mesmo, fingindo um medo de que algo possa dar errado.

Mentira. Eles sabem o que vai acontecer, mas fingem uma surpresa, para se criar uma nova história neste novo livro, uma obra-prima repleta de memórias contemporâneas.

Entre posse de bola, bola parada, compactação e qualquer outra expressão pronta para programa esportivo, o Galo tem sua própria filosofia, que é seguida à risca:

Sofrer, estar prestes à tragédia, dar chance ao vento e brincar com o coração daqueles sujeitos apaixonados, chatos e exigentes. Mas no fim, rir da cara daquilo que ele transformou numa simples brisa e dar um sabor exclusivo às lagrimas de outrora.

O atleticano agora é o engenheiro bem-sucedido, que às vezes dorme mal preocupado com certas imperfeições.

Mas a noite de quarta-feira dele, garanto, é melhor que a sua.

Faltam 6 noites. E em cada uma delas, o Galo é cotado.

@_LeoLealC

3 comentários: