23 maio 2014

Oxalá, Talisca!


Era uma vez um time sofrível de se assistir, que já no começo do Campeonato está na dúvida se irá calcorrear pelo desalento do meio-de-tabela e do "tanto faz", ou se viverá no pânico e do medo da tragédia que o degrau abaixo pode lhe causar. Em resumo, um flauteio à instituição que representa.

Era uma vez um simpático bar (dessa vez, de verdade) em Copacabana, onde alguns apaixonados rubro-negros viam 11 sujeitos entrarem em campo com uma camisa preta. No mínimo, um ato de respeito ao pano principal que costuma cobri-los, pois este não merecia ser tão desonrado mais uma vez.

Era uma vez uma baiana, uma senhora de certa idade, amiga da galera deste bar. Torcedora do Bahia, tinha um jeito que sugeria algum pequeno problema mental ou uma certa embriaguez. Era a xodó do pessoal e ficava ali, na dela.

Enquanto a TV transmitia o jogo, ela não desgrudava suas orelhas de um chamativo aparelho de rádio, lembrando tempos de Jorge Cury e Waldir Amaral.

Chega um, chega outro, e poucos flamenguistas, bastante desanimados com a situação do time, se agrupam e vão assistindo à partida.

Às vezes, a cidadã olhava pra TV, e quando esta dava o close em alguém de branco, ela gritava: "É o meu Baêa!".

Ninguém ali imaginava que a baianinha de Copa torcia de verdade. Muitos até achavam que o rádio estava desligado, mesmo os ouvidos da moça não saindo dali.

Mesmo com o placar em 1 x 0 para o Rubro-Negro no segundo tempo, o grupo de torcedores não mostrava nenhuma animação, muito pelo contrário. Ao ver o Tricolor Baiano muito melhor em campo, pareciam ter certeza que uma hora a casa ia cair.

Era um pessimismo que lembrava muitos amigos alvinegros, por exemplo. A cada lance, uma cornetada em alguém.

E a baiana continuava ali, sentada e tranquila.

Até que todos os flamenguistas do bar começam as gozações com a senhora por volta de uns 35 minutos, quando o jogo voltava a ser equilibrado e o Fla ia chegando perto da vitória.

A partir dali, ela, furiosa, começa a se preocupar de verdade com a partida. E mal sabiam eles - provavelmente ainda não sabem - a entidade com a qual foram se meter.

Talvez essa força sobrenatural que começava a voar da Zona Sul a Macaé tenha feito um dos flamenguistas ali presentes dizer a seguinte e lacrimejante frase:

"O Negueba joga muito.".

Aí, então, pôde-se ter a certeza de que uma hora alguma coisa daria errada.

Do rádio para a TV a cabo há um delay de uns cinco segundos. Mas ninguém pensaria nisso aos 47 do segundo tempo vendo uma falta contra seu time. Sem contar que ninguém tinha também a certeza de que o rádio da moça funcionava.

E enquanto Talisca se preparava pra cobrar, a agora fanática tricolor já gritava: "Dentro! Dentro! Dentro! É meu Baêêêêa!"

Cinco segundos depois, ele foi pra bola e... dentro!

- Mas como essa mulher sabia que ia ser gol? Que espírito doido foi esse?

- Ah, claro. O rádio.

E então os flamenguistas, que pareciam já saber o fim que teria a partida, abaixam a cabeça e aceitam o resultado de forma pouco já vista.

Mas e se não provocassem a baiana?

Brincaram com fogo. Se queimaram.

Aí o juiz apita, ela se levanta da cadeira e diz: "Vocês acharam mesmo que baiano ia dar mole pra vocês?"

Pois é. Dessa vez, não.

Mandinga, essência, candomblé?

Alguém, mas de carne, osso e chuteira.

Alguém, chamado Anderson.

Alguém.

Talisca.

@_LeoLealC

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