09 junho 2014

O voo mais alto


Num domingo de um árduo inverno em Porto Alegre, em 2004, ele foi chamado pelo técnico e foi para o aquecimento. Era mais um Grenal, apesar de este nunca admitir ser acompanhado por artigo indefinido.

Ele entrou em campo. Alguns minutos depois, no alto, usou o titânio pregado em sua testa para transformar o clássico no Grenal do gol 1000.

No alto, lá em cima. Se sentia melhor ali. "Você se sente um pássaro", dizia.

Fernandão era tão frio, tão calmo, que foi até estranha sua pressa em fazer história com a camisa colorada. Ele nasceu de verde, mas se casou de vermelho, sem nem tempo para noivar. Já naquele domingo, assinou o papel, ali mesmo.

A festa, ele deixou pra dois anos depois. Na mesma casa, com os mesmos convidados.

A palavra ídolo, no futebol, tem significados diferentes. Rogério Ceni, no São Paulo, é um tipo. Marcelinho, no Corinthians, outro. Fernandão criou o seu.

Com a bola no pé, não resolvia sozinho, mas fazia o time inteiro jogar em seu limite. Não havia como alguém, perto dele, tirar o pé ou não ter vontade de vencer.

Em dia de jogo no Beira-Rio, sempre acompanhado de um "Hoje tem Colorado!", ouvia-se um "Vamos ver o Fernandão!".

Para isso, até os peixes do Rio Guaíba se vestiam de vermelho.

O Inter de D'Alessandro, Nilmar, Sóbis ou Damião metia medo. O Inter de Fernandão, respeito.

Uma pena que seu poder de liderança e sua praticidade de tirar o máximo de cada um não tenha conseguido fazer seus 4 companheiros levantarem aquele inglório helicóptero.

A vida é injusta com muitos. A morte, um atestado de confirmação.

Ele se foi. Voando, no alto, fazendo o que gosta.

Agora, traça seu voo mais alto. Para o céu, o único azul que lhe cai bem.

Ele se vestiu de branco e atravessou o mundo para pintá-lo de vermelho.

Ele atravessou um momento péssimo que vivia o Colorado e o levou para onde nunca tinha chegado.

Ele atravessou uma cruenta rivalidade e fez aparecer camisas tricolores no Beira-Rio, tristes pela sua ida.

O Gigante da Beira-Rio chora, e passará a Copa em depressão. O torcedor colorado entra em prantos e veste sua camisa 9 até se conformar que o dono dela está agora lá no alto, bem no alto, com a toca do Saci, feliz pelo reconhecimento do que ele foi pra essa gente.

E fique tranquilo, pois se é lá em cima, ele está bem. Sempre foi assim, em tudo.

Fernando Lúcio da Costa surgiu em 18 de março de 1978 e se foi cruelmente.

Já Fernandão, nasceu no dia 10 de julho de 2004.

Este, fica pra sempre.

No coração do futebol, na alma do Colorado.

Vai com Deus, Fernandão.

@_LeoLealC

Um comentário:

  1. Genial filho. amei suas palavras para esse brilha
    nte jogador. que ele descanse em Paz e que vc escreva cada vez mais com tão brilhantes palavras.

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